A
ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa,
demitiu-se e Costa aceitou, consequência directa da intervenção do
Presidente da República que num discurso repleto de "recados",
passou ao lado do essencial: a necessidade de todos os agentes
políticos e da sociedade no seu conjunto encontrarem caminhos para
minimizar os efeitos de um clima que, por muito que por aí se
apregoe, já não é o que era, para além de caminhos para combater
todos os que de forma mais ou menos deliberada têm responsabilidades
pela destruição da floresta.
No
dia seguinte a mais uma tragédia que resulta de incêndios, não
parece haver ponderação suficiente para que se investigue, a fundo,
a razão para o que aconteceu naquele fatídico dia, e muito menos
haverá tempo para esperar pelas conclusões das investigações. Não
podemos honestamente considerar que a existência de mais de 500
ignições entra num contexto de normalidade, nem podemos acreditar
que este ou qualquer outro Estado têm meios para fazer face a um
país, boa parte dele, literalmente em chamas.
É
compreensível que ainda não existam condições entre aqueles que
estão directamente envolvidos na tragédia para que possam procurar
a verdade; o que é menos aceitável são os responsáveis políticos
aproveitarem a desgraça para daí retirarem dividendos. Ou alguém
seriamente acredita que é esse o propósito do CDS, liderado por
alguém directamente responsável por ter tornado as florestas
verdadeiros rastilhos de pólvora, através da proliferação do
eucalipto?
O
próprio Presidente da República, num dos seus muitos acessos
demagógicos, preferiu o caminho dos recados, da repreensão e das
ameaças veladas, do que propriamente a procura da verdade que corre
seriamente o risco de se tornar um factor de pouca relevância.
Ora,
não se percebe muito bem como fazer face a uma problemática destas
dimensões sem se perceber as suas causas e os seus "acasos".
As demissões, as conhecidas, e as que estão na calha, não resolvem
coisa nenhuma. Mas a culpa necessita sempre de um rosto. Ou de
vários. E nem sempre, como se sabe, serão esses os rostos dos
verdadeiros culpados que permanecerão na sombra. Entretanto, a
verdade, essa, permanece por desenterrar e a comunicação social
une-se à direita para enterrar o Governo. Pelo menos aqui, nada de
novo.
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