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Um cowboy nas Nações Unidas

Perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, Donald Trump afirmou estar determinado em destruir "totalmente" a Coreia do Norte caso esta insista no caminho da provocação. As reações foram imediatas, desde murmúrios que invadiram a sala, passando por quem colocasse as mãos no rosto, culminando em semblantes carregados de inquietação face a um discurso que nada resolve o problema, contribuindo apenas para o agravar. De resto, por este caminho Trump acabará por adoptar a retórica lunática dos norte-coreanos. Estilo não lhe falta para lá chegar.
Em jeito de provocação, o Presidente americano ainda teve tempo de intitular Kim Jong-un o "homem foguetão" que dispara para todos os lados. Tudo misturado com a velha retórica: "america first". Embora nada disto constitua propriamente novidade, não é menos verdade que se há uma coisa que nem os EUA nem o mundo precisam é de um cowboy desequilibrado também ele a disparar em várias direcções: para além da Coreia do Norte, Trump ameaçou rasgar o acordo, também em matéria nuclear, com o Irão e proferiu ameaças à Venezuela.
Dir-se-á que esta é uma estratégia assente em manifestações de força com o objectivo de dissuadir a Coreia do Norte, o que por si só, e mesmo sem o estilo de farwest de Trump, não constitui propriamente solução e poderá inclusivamente dar força interna ao inefável ditador norte-coreano. Contudo, as palavras de Trump não se esgotam no estilo cowboy com referências bíblicas, mas sim no reconhecimento e aprofundamento do unilateralismo americano. E será essa a grande ilação a retirar do discurso de Trump que, embora não constitua propriamente uma novidade, contribui para a certeza que dificilmente o mundo poderá contar com os EUA para encontrar soluções conjuntas. O resultado será o menos positivo, mas isso é também o que menos interessa a quem está cheio de si próprio: Donald Trump, coadjuvado pelo fanatismo que tomou conta do partido Republicano.


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