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O PSD está a mudar?

António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS, teceu duras críticas à mais recente deriva populista do PSD. Aproveitando um comício em Loures - cujo candidato pelo PSD é o inefável André Ventura - Costa não poupou nas palavras referindo o desaparecimento do carácter humanista do PSD, estando este partido, sob a liderança de Passos Coelho, a corromper um legado determinante para a democracia portuguesa.
E então? O PSD está mesmo a mudar? A resposta parece ser afirmativa. O PSD insiste no apoio ao candidato André Ventura que não se coíbe de proferir declarações racistas; o líder do PSD lança inquietações sobre a nova lei da imigração, sem tocar, obviamente, nos vistos Gold que tanto impacto negativo tiveram durante a sua governação; Passos Coelho parece disposto a tudo para conseguir umas migalhas políticas e esse "tudo" consubstancia-se numa deriva populista com laivos de intolerância.
Sim, o PSD, sob esta liderança, está a ensaiar uma mudança - a pior que se pode imaginar. O PSD, de facto, não tem uma tradição populista, sobretudo um populismo com laivos de intolerância. É também por essa razão que a manutenção do apoio do partido a André Ventura chocou, mesmo pessoas próximas do partido. E a não retirada do apoio a André Ventura, agora aliada ao lançamento de suspeições e preconceitos sobre a nova lei da imigração, são factores de uma mudança estrutural.
Esta deriva populista dificilmente poderá beneficiar a actual liderança. Esquece Passos Coelho que o aproveitamento de receios primários, como as inquietações em torno da imigração, não colhem tão bem por estas paragens, desde logo pela inexistência de fluxos migratórios da dimensão de outros países. Esse aproveitamento poderá ser feito por partidos próximos da insignificância política e não por um dos maiores partidos portugueses que nem sequer tem essa tradição.

De um modo geral, a luta de Passos Coelho pela sobrevivência pressupõe a ultrapassagem de barreiras até hoje inimagináveis. Não se subestime a vontade Passos Coelho de se manter no poder. Vale tudo, mesmo tudo.

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