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O medo da secessão

A instabilidade que se vive na Catalunha é acompanhada pelo silêncio europeu. Recorde-se que a tentativa de se referendar a independência da Catalunha redundou em detenções de organizadores do referendo e apreensões de boletins de votos e subsequente onda de manifestações acompanhadas por alguma violência.
Mariano Rajoy defende-se, alegando que a lei é para cumprir; os independentistas clamam por democracia e postulam que a impossibilidade do referendo se realizar é um atropelo à vontade popular e democrática. Já antes, em 2010, a questão independentista ganhou nova expressão com a inviabilização do Estatuto da Catalunha por via da actuação do Tribunal Constitucional espanhol. Entretanto, muitos clamam pelo direito à autodeterminação do povo catalão. E a monarquia é outra variável desta complexa equação.
A questão Catalã é antiga e suscita, à semelhança de outras derivas independentistas, apreensão por parte dos poderes instituídos. A União Europeia não é excepção, escolhendo o silêncio para fazer face ao problema. Procura-se assim evitar a abertura da famigerada Caixa de Pandora com outras regiões, espanholas e não só, a clamar pela independência. Tudo se resume ao medo da secessão. Com efeito, é difícil refutar a possibilidade de outras regiões na Europa procurarem seguir o exemplo de uma Catalunha, na eventualidade desta conseguir a sua independência. Embora noutras circunstâncias, com maiores ou menores similitudes, a independência de uma região tenha contado com o apoio da Europa, como terá sido o caso do Kosovo. Repito, com maiores ou menores similitudes.
Voltando a Espanha, a questão da independência da Catalunha sai reforçada com a actuação de Mariano Rajoy, mesmo que a coberto da Constituição espanhola e dificilmente a posição independentista sairá enfraquecida nos próximos tempos. De resto, e muito antes dos últimos desenvolvimentos, a coesão não é uma realidade em Espanha e a possibilidade de fragmentação é real. Cada vez mais real.


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