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Fazer melhor no presente sem esquecer o passado

O país assiste a uma das maiores greves de enfermeiros do passado recente. Indignados e revoltados, os enfermeiros reivindicam melhores condições de trabalho, mais respeito pela carga horária e, não esquecer, mais dignidade para uma classe que presta um serviço imprescindível ao Serviço Nacional de Saúde.
No cerne da contenda está também a recusa do Ministério da Saúde em aceitar a integração de enfermeiros especialistas, facto que acarreta naturalmente custos para o erário público, sem no entanto deixar de constituir um factor de injustiça que merece atenção e subsequente resolução por parte do Executivo e não repreensão e um paternalismo bacoco que são tantas vezes características do diálogo entre Estado e cidadãos, neste particular agrupados numa classe profissional.
Todavia, e embora seja crucial fazer melhor hoje, importa não esquecer o passado e evidentemente levar em conta os 14 mil enfermeiros que, desde 2010, saíram de Portugal. Não esquecer, pois, a degradação das condições de trabalho a que esta classe esteve sujeita a par do próprio SNS, com a sombra da troika e sobretudo de um governo empenhado em ir mais longe do que a troika, embora essa ambição o tenha empurrado para a bancada da oposição, de pouco ou nada valendo a quem tanto se empenhou em ir mais longe, sempre mais longe.
Na verdade, o desinvestimento no SNS e nas classes profissionais associadas constituem um dos exemplos mais evidentes da ideologia nefasta protagonizada por Passos Coelho e que consistiu num trabalho de destruição que levará tempo a recuperar. Importa não esquecê-lo. 

Cabe ao actual Governo, apoiado pelos partidos à sua esquerda, iniciar e dar consistência a esse trabalho de recuperação. O diálogo é o primeiro passo. O fim da condescendência será o segundo.

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