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As flores que eu plantei

Em mais um comício à procura de um milagre eleitoral, Pedro Passos Coelho, sem originalidade – facto que se notou até na banda sonora que fora profusamente utilizada nas campanhas de António Guterres - lamentou-se por não colher as flores que plantou. Ou seja, o lamento prende-se com o facto de não estar no Governo a ser elogiado interna e externamente.
Por entre exageros como referir-se à democracia portuguesa como sendo incompleta, o ainda líder do PSD falou naqueles que andam a “colher flores para colocar na jarra”, chamando a atenção para o facto de não terem sido esses a “regarem e a semearem as flores”. E depois de anos de insistência na austeridade até à morte e depois de anos de profecias sombrias sobre o futuro do país, Passos Coelho procura capitalizar os bons resultados da economia portuguesa, alguns do quais verdadeiramente surpreendentes.
Ora, a estratégia passa agora por insistir na ideia que postula que os bons resultados económicos são fruto do trabalho do Governo de Passos Coelho e não devido ao abandono da dita austeridade até à morte, aliada, evidentemente à melhoria considerável da economia europeia e mundial.
Resta muito pouco a Passos Coelho depois de ter sido traído pela democracia, designadamente por uma coisa que se chama “maiorias na Assembleia da República”, pela realidade e agora sê-lo-á pelo poder local.
Resta-lhe acreditar na sua própria realidade e espalhar essa sua versão da realidade, recorrendo às habituais metáforas pueris. Resta-lhe olhar para as flores que plantou. Pelo menos é essa a história que vinga na sua cabeça. Pena, para ele, é que seja apenas na sua cabeça e de meia-dúzia de apaniguados.




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