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Venezuela em pleno autoritarismo

Não há como ficar indiferente ao que se está a passar na Venezuela: violência, supressão de direitos, abusos de poder, reaccionarismo. Num contexto de forte conturbação, onde se assiste a uma espécie de guerra civil que nunca chega verdadeiramente a sê-lo, desde logo pela desproporção de poder entre ambos os lados, resta pouca ou nenhuma esperança para uma solução pacífica.
Confesso ter dificuldade em fazer a defesa de um regime que, sem hesitações, aposta tudo para garantir a sua manutenção, e a democracia, ou que restava da mesma, acaba por ser mais um obstáculo no meio de tantos outros. Por outro lado, não teço elogios à oposição ao governo de Maduro, reconhecendo desde logo o seu acentuado reaccionarismo; mas não posso compactuar com a política do vale tudo, incluindo a supressão de liberdades, mortes e prisões arbitrárias em nome desta ou daquela revolução.
O culto da personalidade a Hugo Chávez, o pouco o nenhum respeito pela democracia representativa e pelo pluralismo democrático resulta num endurecimento do regime. De resto, as eleições para a Assembleia Constituinte ao mesmo tempo que se enfraquece a Assembleia Nacional que foge ao controlo do regime, não fortalece o argumento do progresso social impulsionado por Chávez que de pouco vale se esta deriva autoritária persistir.
Bem sei que existe que defenda a revolução bolivariana a todo o custo, tudo contra o império do mal que, por muito que tenha os olhos postos no petróleo venezuelano, não pode servir de justificação para a morte da democracia às mãos do Presidente Maduro. 
De igual modo, lá como noutras partes do mundo discutem-se números: quantos manifestantes contra Maduro pereceram? E quantos daqueles que são chavistas morreram? Seja como for, os números são assustadores e representam o prelúdio de uma situação absolutamente insustentável.

Qualquer saída para a situação, nunca será demais dizê-lo, terá que ser democrática, com respeito pelo pluralismo, pela liberdade de expressão e manifestação e pela separação de poderes. Mas a questão que se impõe é que já resta pouca ou nenhuma democracia e nada se constrói de profícuo sobre os seus escombros. Paralelamente, as responsabilidades não podem ser dissociadas do Presidente Maduro, por muito que isso custe a todos os que sonham com a revolução bolivariana ou com qualquer outra.

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