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Podemos concluir que não temos oposição

Em bom rigor a frase em epígrafe faz mais sentido do que aquela proferida por Pedro Passos Coelho: "Podemos concluir que não temos Estado", isto a propósito, claro de está, de Pedrogão e de Tancos.
Sem alternativas e à espera de um Diabo que o antigo primeiro-ministro crê ter assumido a forma de incêndios e assaltos a um paiol, Passos Coelho dedica todas as suas atenções e utiliza todas as suas forças para insistir nos dois assuntos que fizeram e continuam a fazer parte da agenda mediática.
Assunção Cristas, padece do mesmo mal. Desnorteada, com eleições à porta e sem alternativas, agarra-se ao que pode: novamente Pedrogão e Tancos. A ausência de Estado - numa espécie de anarquia silenciosa de que ninguém terá dado conta - é agora o grande argumento da direita.
E pelo caminho fica a oposição que é a essência destes partidos. Qual oposição? Sem alternativas não há propostas, não há nada construtivo. A parca oposição resume-se à atribuição de todas as responsabilidades ao actual Executivo, quando elas ainda não estão totalmente apuradas, e ao aproveitamento político de tudo o que cai na rede e que rapidamente se transforma em peixe.
Mexendo na frase de Passos Coelho, não é o Estado que não existe, embora possamos falar em falhanços graves; é a oposição que não existe.

Na verdade seria mais prudente abordar os eventuais falhanços do Estado quando as responsabilidades forem de facto apuradas, mas Passos Coelho e Assunção Cristas não podem esperar mais tempo. As eleições estão à porta, as oposições internas, sobretudo no PSD, crescem de tom, e o discurso exasperado de ambos os partidos não colhe. O tempo urge e o aproveitamento político é, neste momento, a única arma destes partidos.

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