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As alarvices de Trump

Não há semana sem as alarvices de Donald Trump. A última semana ficou marcada pelo ataque do Presidente americano a dois apresentadores de televisão, tudo, claro está, através do twitter. Trump intitulou os apresentadores de “louco” e “burra como uma pedra”. Nada de novo, infelizmente. Mudam os visados e os adjectivos, parcamente, até porque o vocabulário daquele que é o Presidente americano mostra ser manifestamente reduzido.
Todavia, estes episódios protagonizados por Trump são-lhe mais benéficas do que prejudiciais. Os grosseirismos do ocupante da Casa Branca permitem, desde logo, desviar as atenções do desastre que está a ser esta Administração. Permite desviar as atenções do amadorismo misturado com uma inusitada dose de mediocridade que carateriza o Presidente, mas também o resto da Administração.
Por outro lado, as alarvices regulares permite acentuar as divisões que são excelentes para quem quer reinar. Os defensores de Trump continuam a sê-lo, apesar das alarvices e, talvez, graças às mesmas sintam que devem reforçar o seu apoio. Quanto à mediocridade e o amadorismo de tantos nesta Administração, não merecem importância.
Por outro lado, quem está se choca com tantos episódios invariavelmente caracterizados por tentativas de humilhação tem dificuldade em viver numa realidade em que Trump é Presidente dos EUA e sente que as alarvices correm o risco de entrar numa estranha espécie de normalidade.

Pelo caminho, o alarve na Presidência americana mostra-se estar nas tintas para o planeta; manifesta uma ignorância onde apenas germinam ideias pré-concebidas no que toca a política externa; tem dado o mais forte contributo para o agravamento das desigualdades entre americanos e acaba com programas de saúde que salvam vidas. Tudo bem misturado com doses consideráveis de gestos e palavras grosseiras que nos permitem dedicar todas as nossas atenções às mesmas, relegando o resto para segundo plano.

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