Aparentemente
revoltado com o que se passou no país, o ex-primeiro-ministro
enfatizou o falhanço do Estado, um falhanço que persiste, tanto
mais que ele próprio teria conhecimento de suicídios "por
falta de apoio psicológico em Pedrógão". É certo que
imediatamente tanto o Presidente da Câmara de Pedrógão Grande como
o Presidente da Administração Regional de Saúde vieram a público
negar qualquer suicídio, mas isso não afectará quem, num desespero
indisfarçável, procura retirar dividendos da desgraça
No
entanto e como choveram críticas à precipitação de Passos Coelho,
veio o Provedor da Santa Casa da Misericórdia dar o corpo ao
manifesto, pedindo desculpas por ter induzido Passos em erro. E assim
se esperaria que o infeliz assunto ficasse por aí: uma também
infeliz sucessão de equívocos. Não ficou e Passos Coelho viu-se
obrigado a pedir desculpa. A desculpa prende-se com a não
confirmação da informação e não pelo abjecto aproveitamento
político de uma desgraça sem precedentes.
O
recurso aos instrumentos mais vis não podem propriamente
surpreender, este foi afinal de contas o primeiro-ministro que não
pestanejou quando infligiu doses cavalares de austeridade nos
cidadãos, não deixando de fora as camadas mais frágeis da
sociedade. Este foi o primeiro-ministro que fez a defesa dessa dor
até há bem pouco tempo, contendo-se mais nos últimos meses,
confrontado com o falhanço daquilo que tanto apregoou.
Agora,
órfão de Diabo e despido de argumentação que valide qualquer
espécie de oposição, Passos Coelho deixa-se mergulhar no vale
tudo. E vale mesmo tudo quando se inventa ou se espalha boatos com a
gravidade daquela em apreço - a que postula casos de suicídio, por
falta de apoio psicológico. Mesmo tendo em conta que se trata de
Passos Coelho, não deixa de haver alguma inquietação por estas
palavras terem saído de alguém que foi primeiro-ministro e que
ainda se propõe chegar ao cargo.
Para
aqueles que tinham dúvidas quanto ao carácter de Passos Coelho,
estas terão, seguramente, ficado desfeitas depois de um exercício
ignóbil de aproveitamento político, com recurso ao desprezo pela
dor alheia, espalhando informações sem qualquer fundamento.
Se
dúvidas existem sobre as qualidades de Passos Coelho para
desempenhar as mais altas funções de representação política,
elas ficaram desfeitas perante o vale tudo para atingir os seus
intentos - para garantir uma sobrevivência política em que só ele
próprio e meia-dúzia de apaniguados acreditam.
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