Primeiro vingou a ideia, por pouco
tempo ainda assim, que postulava um inevitável fracasso da solução
que juntava Partido Socialista, Bloco de Esquerda e Partido
Comunista; depois esperou-se que o Diabo estivesse para chegar, ainda
estamos à espera; finalmente, e já num contexto de desorientação,
procurou-se reclamar louros sem qualquer espécie de sentido, fosse
no que diz respeito à redução do desemprego, fosse nos próprios
resultados económicos – tudo era por conta de Passos Coelho.
Ora, a realidade teima em ser tão
diferente dos sonhos mais ousados do ex-primeiro-ministro. Afinal de
Contas, Portugal está oficialmente fora do Procedimento por Défice
Excessivo e como se isso não fosse suficiente ainda se propõe
pagar, antecipadamente, 10 mil milhões ao FMI, enquanto se financia
a juros notavelmente baixos. Para cúmulo dos cúmulos ainda
assistimos aos elogios de Schäuble e seus acólitos – são
exercícios plenos de hipocrisia, mas que garantidamente causam azia
em Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e seus apaniguados.
É indiscutível que este Governo,
apoiado por Bloco de Esquerda, PCP e Verdes tem conseguido resultados
particularmente positivos: o défice mais baixo da democracia
portuguesa, a redução da taxa de desemprego, o aumento da
confiança, a saída do dito Procedimento por Défice Excessivo, os
pagamentos antecipados aos agiotas, etc. Mas também é evidente que
os bons resultados do Governo português em nada mudam o que está
errado numa UE que se rendeu ao neoliberalismo falido. Nem tão-pouco
mudam a percepção errada de quem está à frente dos destinos da
Europa: aqueles que acreditam que existe alguma espécie de futuro
num capitalismo que já nem pretende esconder a sua natureza
selvagem.
Seja como for, nada disto enfraquece
os bons resultados obtidos por esta solução política que, embora
beneficie de um contexto internacional mais favorável, por enquanto,
não deixou de mostrar que existe um caminho alternativo à
austeridade até à morte e que esse caminho é o certo.
Depois de tudo isto, não admira pois
que as intenções de voto no PSD sejam as mais baixas dos últimos
40 anos. É que para além de tudo terem feito para preservar e
exponenciar um sistema repleto de iniquidades, não só falharam as
previsões do cataclismo como foram incapazes de esconder que as suas
receitas apenas trouxeram dor para a maior parte dos portugueses; dor
invariavelmente acompanhada por uma dose inusitada de sadismo.
É
claro que não deixará de haver quem procure atacar o Governo pela
via dos incêndios, uma espécie de procura desesperada pelo Diabo
que nunca apareceu, esquecendo responsabilidades do passado e
ignorando o respeito que as vítimas, seus familiares e amigos nos
merecem. Puro aproveitamento político a que alguns não resistem,
ignorando, convenientemente, que o que aconteceu terá, também,
razões de natureza política que jamais poderão ser o resultado de
apenas dois anos de governação.
O
desespero é assim: tantas vezes anda de mãos dadas com o vale tudo.
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