Avançar para o conteúdo principal

O Sr. Ex-primeiro-ministro ouviu bem: nacionalização

A palavra "nacionalização" arrepia uma certa direita, medíocre, neoliberal e incapaz de reconhecer os falhanços enormes do sistema. Passos Coelho, ex-primeiro-ministro-inconformado, pertence a essa direita e mais: é um dos expoentes máximos dessa direita em Portugal.
Vem isto a propósito de uma notícia veiculada pelo Jornal Público e que dá conta de uma acordo firmado entre o Estado, representado pelo governo de Passos Coelho e o famigerado SIRESP (Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal e do consórcio que explora essa fileira composto, uma PPP, composta por Galilei (ex-SLN, sim estamos a falar do BPN), ESEGUR, PT, Motorola e Datacomp. O acordo visava uma redução de pagamento por parte do Estado de 25 milhões de euros, e embora o acordo tenha sido firmado no dia 9 de Abril de 2015, só se efectivou e ficou concluído pelo actual Governo de António Costa. O SIRESP, o tal que custou mais de 500 milhões ao erário público, e que passou pelas mãos de vários governantes.
A notícia em si levanta óbvias questões o próprio SIRESP tem tudo para nos inquietar: ineficácia, custos elevados, a própria constituição do consórcio e ligações a alguns políticos, ou até o facto dos representantes dos accionistas privados receberem remunerações anuais na ordem dos 700 mil euros.
Mas não será este filão de promiscuidades e incompetência que procurarei explorar, até porque muitos, com maior conhecimento, seguramente o farão. É também nesta peça jornalística que o ex-secretário de Estado adjunto da Administração Interna, Fernando Alexandre, dá alguns detalhes sobre própria negociação (particularmente dura, ou não fossem estes senhores agarrados às rendas que contribuem para que o capitalismo à moda portuguesa seja ainda mais um promotor de desigualdades com capital em rendas ao invés de investimentos em inovação e tecnologia) e dá também a sua opinião de forma taxativa: "a melhor solução para oSIRESP seria a sua nacionalização, por forma a conter os elevadoscustos e solucionar as suas falhas". Recorde-se que Fernando Alexandre acabou por pedir a demissão em Abril e ainda hoje não sabe o fundamento da não aprovação do assunto em Conselho de Ministros.
Passos Coelho foi um dos mais fervorosos adeptos das privatizações, a coberto de uma crise e da ideia de que o privado faz melhor. Privatizou tudo o que pode, incluindo empresas que davam lucro, como o caso dos CTT. Privatizações essas que muito contribuíram para enriquecer os rentistas, enfraquecendo os serviços com natural prejuízos dos utentes e do próprio Estado.

Ora, Passos Coelho seguramente arrepiou-se e talvez se tenha questionado se terá ouvido as palavras que julga ter ouvido da boca de um membro do seu governo: nacionalização. Sim, Sr. Passos Coelho, ouviu bem: nacionalização. A palavra é para si uma anátema e a antítese daquilo que o senhor tanto defendeu e defende: privatizações que trazem consigo um manancial de efeitos negativos e serviços de péssima qualidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa