Avançar para o conteúdo principal

O coelhinho e o tacho

Era uma vez um coelhinho inconformado. Inconformado com a sua situação, inconformado com o presente e com saudades de um passado cinzento que tanto o agradava. O coelhinho de fofo nada tem, contrariamente à imagem tradicional da espécie a que pertence, pelo contrário, o coelhinho perdido na floresta, rói-se de inveja daqueles que ocupam o lugar que ele ainda julga ser seu, por direito.
O coelhinho acusa o que agora ocupa o lugar que outrora fora seu de rapar o tacho, uma alusão desesperada e, em larga medida, assente na sua própria experiência de subsolo conhecida pelas piores razões – utilizou recursos de outros, sob falsos pretextos, esbanjando esses recursos. Essa experiência de subsolo ficou conhecida com tentativa de juntar tecnologia e forma na mesma palavra. Em suma, rapou o tacho.
O coelhinho que de fofo nada tem sente-se sozinho, apesar dos seus dois amigos. Todavia, sabe que o amigo javali mais dia menos dia cravará a suas presas no seu pequeno corpo, ocupando o seu lugar. A sua outra amiga, uma avestruz amarelada que esconde a cabeça na areia sempre que se fala do seu passado, olha para o coelhinho com a mesma candura que olha para os seus companheiros agiotas, não fazendo do coelhinho o ser especial que ele tanto almeja ser. Diz-se por aí que o coelhinho tem uns amigos pardais, mas como ele também bem sabe, os pardais, quando os ventos de mudança soprarem fortes, voarão para outras paragens.

Resta muito pouco ao coelhinho que, no seu íntimo, sabe estar a colher aquilo que semeou. Mas enquanto a coisa der, o coelhinho vai fazendo o seu caminho, acusando os outros de ser aquilo que ele próprio é. Até porque agora o coelhinho nem tacho tem para rapar, contentando-se com uma mera cenoura, fortemente alaranjada, mas ressequida.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa