Mais
do que um simples lamento, esta é uma manifestação de tristeza e
de revolta.No dia 9 de Maio de 2017 duas peças jornalísticas
deveriam abalar qualquer ser humano: uma reportagem da CNN com
imagens do resultado do ataque químico na Síria, homens, mulheres e
crianças num sofrimento extremo; outra reportagem dando conta de uma
gravação do pedido de ajuda de um barco que se afundava a alguns
quilómetros de Lampedusa, em 2013. Nessa gravações podemos ouvir
as autoridades italianas recusarem o envio de ajuda sob o pretexto de
que aquele salvamento teria que ser feito por Malta. Levaram cinco
horas. Resultado: centenas de mortes, entre as quais 60 crianças.
Centenas de pessoas, muito mais do que imigrantes ou refugiados,
pessoas que perderam a vida consequência da burocracia, do
passa-culpas, de uma cultura marcada por um profundo egoísmo.
A
Europa, cujo projecto anda de mãos dadas com os direitos humanos,
procura empurrar os problemas com a barriga, agindo de forma
deplorável com acordos manhosos com países como a Turquia.
Quando
perdemos as características que nos tornam humanos, estamos
irremediavelmente perdidos. Quando o valor supremo - a vida humana -
deixa de o ser, o que nos resta? Quando o valor supremo é o dinheiro
e tudo o que o dinheiro arrasta e quando subsequentemente o egoísmo
toma a sua forma mais atroz, o que nos resta? E mesmo quando estas
situações me provocam algum incómodo, lá me procuro convencer de
que as dores do mundo não são as minhas.
Comentários