Depois
de cada atentado multiplicam-se os votos de pesar, a promessas de
união e os juramentos em torno de luta cerrada contra o terrorismo.
Mas como combatê-lo quando se cometem erros crassos? E escusado será
chamar à colação erros passados, como os que criaram vazios de
poder no Iraque e na Líbia e até certo ponto na Síria, vazio esse
ocupado por grupos terroristas como o Daesh. Esses são sobejamente
conhecidos.
Donald
Trump deslocou-se, na sua primeira viagem oficial, à Arábia
Saudita, com o objectivo claro de vender armamento - aparentemente
sem paralelo, no que diz respeito à quantidade. Trump deslocou-se ao
berço ideológico do jihadismo para vendeu uma quantidade absurda de
armas. O que é que isso faz pela luta contra o terrorismo? O
Presidente americano faz negócios em nome do povo que será sempre a
vítima da ideologia que esse país desenvolve e promove.
Insatisfeito,
Trump decidiu reverter a aproximação que Obama havia encetado
relativamente ao Irão. O novo Presidente americano prefere
hostilizá-lo. Recorde-se que Daesh e Al-Qaeda, cujo filho de Osama
Bin Laden, Hamza Bin Laden, procura recuperar, são sunitas, em
oposição ao xiismo iraniano. Pensar-se numa guerra contra Daesh e
Al-Qaeda sem o envolvimento do Irão é simplesmente absurdo - mas é
no absurdo que Trump vive.
Por
fim, a ausência de críticas ao regime de Erdogan - o mesmo que
procura destruir o legado secular de Ataturk. Uma combinação
explosiva.
Continuaremos
a passar ao lado do essencial, cometendo erros atrás de erros, tudo
em nome do sacrossanto dinheiro e dos negócios que lhe subjazem.
Insistiremos
na manifestação de um conjunto de intenções para combater o
terrorismo, com o agravamento do estado securitário dos países
afectados. No que toca às questões ideológicas ignoramos
inclusivamente o essencial: a transversalidade do Islão e as suas
implicações, designadamente a sua abrangência religiosa, política,
económica, cultural e de identidade - facultando uma resposta -
presume-se - às inquietações da vida e da morte. Tudo levado ao
expoente máximo no contexto jihadista o que torna o seu combate
manifestamente difícil. E é no plano ideológico que mais falhamos,
não tanto no plano policial.
É
evidente que se, paralelamente, continuarmos a cometer erros crassos
como o apoio a Estados que fomentam, de forma mais ou menos tácita,
o jihadismo, enquanto ostracizamos quem pode efectivamente ajudar no
seu combate, pouco mais haverá a fazer do que esperar por mais um
qualquer atentado na Europa ou nos EUA.
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