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Os perigos da extrema-direita não desaparecem

Com o resultado eleitoral em França, no passado domingo, e com a mais do que provável vitória do candidato nem-nem (nem de esquerda, nem de direita), dito de centro, pró-europeu e que, embora se encontre fora dos partidos políticos que dominaram a cena política francesa partilha com eles a mesma natureza, os perigos da extrema-direita não desaparecem.
Marine Le Pen dificilmente conseguirá vencer a segunda volta das presidenciais, mas deixa uma semente que com facilidade germinará na eventualidade do falhanço de Macron e Macron tem tudo para falhar: ex-banqueiro, neoliberal não assumido, Macron não será capaz de resistir a mais desregulação laboral, menos Estado Social, enfim, mais receita desastrosa que tem contribuído para o afastamento dos cidadãos relativamente aos políticos convencionais - os que têm dominado a cena política nas últimas décadas; os mesmos que abdicaram da ideologia em nome do mercado, os mesmo que se vangloriam com a morte dessa ideologia, rendidos aos encantos dos mercados, dos negócios, da inanidade.
Marine Le Pen regressará em força quando esses políticos falharem, sobretudo num contexto em que a par da insegurança no emprego e no futuro, junta-se a insegurança nas ruas. Quando Macron falhar, estará lá Le Pen ou outra personagem similar para em cima dos destroços prometer um paraíso: sem imigrantes, sem refugiados, sem UE - todos os que, na óptica de muitos europeus são os responsáveis pelo retrocesso das suas condições de vida.

A Europa, diz-se por aí, respira de alívio. Por ora, o pior parece ter passado. Apenas por ora. Rob Riemen lembra-nos que Albert Camus acreditava que o bacilo do fascismo nunca morria, verdadeiramente. Quando Macron falhar, com a ajuda de republicanos, socialistas e afins, essa bacilo voltará a dar que falar.

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