Avançar para o conteúdo principal

Nem de direita, nem de esquerda

Em França venceu o candidato nem-nem, o candidato que se vangloria de não estar nem à direita, nem à esquerda, facto que redunda amiúde na direita neoliberal. Terá de disputar agora as eleições com a inefável Marine Le Pen.
E porquê Macron? O candidato nem-nem é indiscutivelmente o homem preferido pelos negócios e subsequentemente pela comunicação social. Ex-banqueiro, envolvido com a fina flor dos negócios franceses, Macron é adorado. Tanto mais que foi escolhido pela comunicação social que o vendeu como sendo o único candidato capaz de vencer Marine Le Pen. A Europa que não muda também respira de alívio. Por enquanto. E os outros candidatos?
Fillion, embora interessante sob o ponto de vista dos negócios, viu-se irremediavelmente comprometido depois de escândalos de corrupção demasiado evidentes; escândalos esses que arruinaram as suas hipóteses. Hamon, o candidato socialista, mais socialista do que muitos e sobretudo mais do que Hollande, não teve tempo para mostrar essa sua natureza genuína e nunca teve a comunicação social do seu lado. O Partido Socialista Francês está acabado.
Mélenchon, nada interessante para os negócios, por razões óbvias. Logo, não teve boa comunicação social.
E Le Pen, não será ainda assim suficientemente atractiva aos olhos do poder económico e financeiro, não tanto pelo seu carácter xenófobo ou divisionista, mas porque Fillion e sobretudo Macron oferecem mais garantias a esse mesmo poder.

O resultado será a vitória de Macron numa segunda volta em que a maioria não quer ver Le Pen à frente dos destinos do país. Mas o resultado também será mais desregulação na legislação laboral de que Macron tanto sabe; será mais para mais ricos e menos para os restantes, em suma será mais doses da mesma receita que tanto tem contribuído para afastar os cidadãos da política. Embora numa segunda volta a vitória de Le Pen seria o pior dos cenários, a verdade é que a vitória de Macron é também uma oportunidade perdida. Talvez a última. Oportunidades destas, perdidas, só dão mais poder aos populistas. A continuar assim, o seu dia chegará.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...