Avançar para o conteúdo principal

A última entrevista de Passos Coelho

Não será bem a última, mas podia ser. Passos Coelho já não um líder desesperado, é um líder derrotado, que tudo faz para esconder a sua derrota, agarrando-se à questão da Caixa Geral de Depósitos, procurando acusar o Governo de ter cometido erros, esquecendo-se, naturalmente, da acção do seu próprio Executivo. Pelo meio encetou tentativas de reconhecimento da existência de aspectos positivos que se prendem com a actual governação, procurando fazer esquecer as ânsias pelo Diabo, mas sem que conseguisse evitar um horrível cheiro a falsidade.
Sem uma ideia que não passe pela austeridade em doses cavalares, perdido num tempo em que essa austeridade, pelo menos nas doses que ele próprio apregoa, não colhe nem entre os portugueses, nem sequer pelas instituições europeias, pelo menos com a intensidade do passado, o antigo primeiro-ministro resiste.
Passos Coelho demonstrou, uma vez mais, que não tem nada para oferecer, como na verdade nunca teve. Confrontado com a prestação positiva do actual Executivo de António Costa, o ainda líder do PSD vê o seu pobre discurso inexoravelmente ultrapassado pela realidade.
Com eleições autárquicas à vista e sem grandes possibilidades de conseguir uma vitória de que tanto necessita, Passos Coelho demonstra já dificuldades em esconder a sua derrota a todos os níveis. Pouco mais lhe resta do que se agarrar a umas migalhas que lhe restam no PSD. Já pouco sobra e menos ainda lhe restará quando os caciques locais sofrem também eles derrotas nas autárquicas. Mas não se demitirá.
Passos Coelho ensaiou uma espécie de neoliberalismo misturado com a mais abjecta subserviência perante a Europa, tudo muito bem condimentado com as doses certas de mediocridade. Deixou um país mais pobre, mais endividado e, sobretudo um país sem qualquer esperança no futuro. O ainda líder do PSD foi tantas e tantas vezes a própria antítese da política: nada preocupado com o bem comum, defendendo o poder económico, fosse com esquecimentos sobre as offshores, fosse castigando os rendimentos do trabalho. Tudo misturado com uma inacreditável incompetência e ligeireza de que Assunção Cristas, parceira de coligação, deu conta, afirmando que a banca não era assunto discutido em Conselho de Ministros e que assuntos tão graves como o BES eram despachados em férias por email. Para concluir atira mais solidez à geringonça, ao afirmar que, caso a mesma falhe, espera que o Presidente da República aja em conformidade com o facto de Passos Coelho ter sido o líder do partido mais votado. Ou seja, se tudo for abaixo, Coelho quer ser logo empossado por Marcelo, sem passar pelo processo eleitoral, não vá o Diabo tecê-las. Agora é que a actual solução política tem mesmo que resistir, caso contrário arriscamos a ter Passos Coelho imediatamente empossado primeiro-ministro, numa repetição de um pesadelo já conhecido.

Talvez ainda não seja a última entrevista de Passos Coelho, mas lá chegaremos. Estamos perto, muito perto. E talvez não seja apenas optimismo. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma