François Hollande prepara-se para deixar o Palácio do Eliseu e numa cimeira organizada por si e que teve lugar em Versalhes - centro de ostentação da monarquia francesa - deixou o seu presente de despedida: "ou há uma UE a duas velocidades ou ela explode". Segundo o ainda Presidente francês, a UE a 27 "já não pode ser uniforme a 27 e a ideia de uma Europa a várias velocidades suscitou resistência, mas hoje essa ideia impõe-se, senão é a Europa que explode".
Ora, onde é que fica o projecto europeu nesta Europa sonhada a duas velocidades? Onde fica a coesão, ambição maior da Europa? Ou alguém acredita que uma Europa a duas velocidades cinge-se à vontade de uns irem mais longe em matéria de defesa, harmonização fiscal, cultura ou juventude, em diferentes graus de integração? E essa ideia não é precisamente contrária ao propósito da UE?
Com este presente de despedida, a Europa reconhece a existência da hegemonia de alguns Estados; a Europa reconhece a visão derrotista que se traduz na existência de uma vasta maioria de Estados-membros que se subjugam a dois Estados-membros e o reconhecimento das desigualdades como norma.
É evidente que a frase de Hollande esconde a sua ambição de se tornar Presidente do Conselho europeu o que implica lambidelas criteriosamente dadas em certos traseiros e, por outro lado, exprime a tentativa francesa de recuperar a hegemonia perdida, talvez com ideias de ressuscitar o velho eixo franco-alemão.
Seja como for, uma Europa a duas velocidades como ambição é o reconhecimento da condição periclitante da UE, consolidando a ideia de que esta é uma Europa a caminho do abismo, mas com um sorriso nos lábios.
Neste contexto, como é que um Brexit pode causar choque?
Pelo meio, líderes como António Costa mostram-se favoráveis, mas com condições... o tal Estado-membro que reconhecidamente anda a uma velocidade mais branda - e que defende a sua velocidade - quer impor condições. Risível.
Comentários