Avançar para o conteúdo principal

Olhar o monstro de frente...

...E resistir à tentação de acabar a olhar para o lado. Pacheco Pereira escreveu um artigo no jornal Público sublinhando o facto dos partidos de esquerda estarem a ignorar o perigo silencioso do populismo e do seu crescimento, designadamente em Portugal.
Nesse artigo é utilizado o exemplo dos refugiados Yazidi que chegaram nas últimas semanas a Portugal e a rejeição de uma parte da população que fala entre-dentes, e que rejeita o acolhimento de imigrantes e até de refugiados. E os que rejeitam são os "abandonados" de que fala Pacheco Pereira e que todos conhecemos: pessoas que estão na classe média ou numa classe-média baixa que se sentem abandonadas pelos partidos mais tradicionais, e têm a percepção de ter perdido muito, sem esperança de vir a recuperar o que perderam. "Isto nunca mais volta a ser o mesmo" e "antigamente é que era bom" são frases que se ouvem com cada vez mais insistência. Estas pessoas perderam com o capitalismo, na sua versão mais selvagem, no entanto, paradoxalmente, não ousam discuti-lo ou por desconhecimento e confusão ou porque simplesmente preferem ignorá-lo Pelo caminho escolhem amiúde os mais desprotegidos sobre os quais depositam a sua raiva, esses e os políticos corruptos e incapazes de resolver as crises que assolam os países.
Paralelamente, esquerda mostra-se incapaz de chegar a este segmento da população e alguma direita pega nas questões sociais para dividir. Todavia, ainda não estaremos propriamente lá - no populismo. Mas ainda assim importa olhar o monstro de frente e encontrar formas de combatê-lo. De resto, nada nos garante que ele não possa mesmo vir a caminho.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...