...E
resistir à tentação de acabar a olhar para o lado. Pacheco Pereira
escreveu um artigo no jornal Público sublinhando o facto dos
partidos de esquerda estarem a ignorar o perigo silencioso do
populismo e do seu crescimento, designadamente em Portugal.
Nesse
artigo é utilizado o exemplo dos refugiados Yazidi que chegaram nas
últimas semanas a Portugal e a rejeição de uma parte da população
que fala entre-dentes, e que rejeita o acolhimento de imigrantes e
até de refugiados. E os que rejeitam são os "abandonados"
de que fala Pacheco Pereira e que todos conhecemos: pessoas que estão
na classe média ou numa classe-média baixa que se sentem
abandonadas pelos partidos mais tradicionais, e têm a percepção de
ter perdido muito, sem esperança de vir a recuperar o que perderam.
"Isto nunca mais volta a ser o mesmo" e "antigamente é
que era bom" são frases que se ouvem com cada vez mais
insistência. Estas pessoas perderam com o capitalismo, na sua versão
mais selvagem, no entanto, paradoxalmente, não ousam discuti-lo ou
por desconhecimento e confusão ou porque simplesmente preferem
ignorá-lo Pelo caminho escolhem amiúde os mais desprotegidos sobre
os quais depositam a sua raiva, esses e os políticos corruptos e
incapazes de resolver as crises que assolam os países.
Paralelamente,
esquerda mostra-se incapaz de chegar a este segmento da população e
alguma direita pega nas questões sociais para dividir. Todavia,
ainda não estaremos propriamente lá - no populismo. Mas ainda assim
importa olhar o monstro de frente e encontrar formas de combatê-lo.
De resto, nada nos garante que ele não possa mesmo vir a caminho.
Comentários