Cavaco
Silva resolveu oferecer ao país mais um exercício insidioso,
relembrando aqueles que já haviam esquecido o anterior Presidente da
República - o pior que já passou pela política portuguesa.
Entre
as vacuidades do costume, Cavaco resolveu dar a conhecer as suas
reuniões com o primeiro-ministro na altura, José Sócrates. O que o
livro revela é sobretudo a incapacidade manifestada por Cavaco Silva
de esquecer José Sócrates.
Sendo
certo que Sócrates marcou o país - pelas piores razões -, não
deixa de ser curioso verificar que Sócrates marcou igualmente o
anterior Presidente da República.
É
evidente que no livro existem apenas ataques desferidos a terceiros,
sem nunca Cavaco admitir os seus erros que foram muitos. É também
evidente que este livro não constituiu qualquer exercício de
cidadania, mas uma espécie de um ajuste de contas de alguém que
apesar de arredado das grandes decisões, e talvez por isso mesmo,
não se conforma com o passado e não se ajusta ao presente. Azedume
e um vazio incomensurável são características do livro, tal como
são características do ex-Presidente da República.
Foram
demasiadas quintas-feiras, foram demasiados dias aqueles
protagonizados por Cavaco Silva na qualidade de Presidente da
República. Noutras situações as pessoas colocam o passado atrás
das costas e seguem em frente. Cavaco não o pode fazer. O passado
alimenta a sua acrimónia e andar para a frente significa aceitar um
presente com o qual o ex-Presidente da República não se revê e que
até
tentou impedir de se concretizar.
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