Avançar para o conteúdo principal

Foram demasiadas quintas-feiras, foram demasiados dias

Cavaco Silva resolveu oferecer ao país mais um exercício insidioso, relembrando aqueles que já haviam esquecido o anterior Presidente da República - o pior que já passou pela política portuguesa.
Entre as vacuidades do costume, Cavaco resolveu dar a conhecer as suas reuniões com o primeiro-ministro na altura, José Sócrates. O que o livro revela é sobretudo a incapacidade manifestada por Cavaco Silva de esquecer José Sócrates. 
Sendo certo que Sócrates marcou o país - pelas piores razões -, não deixa de ser curioso verificar que Sócrates marcou igualmente o anterior Presidente da República.
É evidente que no livro existem apenas ataques desferidos a terceiros, sem nunca Cavaco admitir os seus erros que foram muitos. É também evidente que este livro não constituiu qualquer exercício de cidadania, mas uma espécie de um ajuste de contas de alguém que apesar de arredado das grandes decisões, e talvez por isso mesmo, não se conforma com o passado e não se ajusta ao presente. Azedume e um vazio incomensurável são características do livro, tal como são características do ex-Presidente da República. 

Foram demasiadas quintas-feiras, foram demasiados dias aqueles protagonizados por Cavaco Silva na qualidade de Presidente da República. Noutras situações as pessoas colocam o passado atrás das costas e seguem em frente. Cavaco não o pode fazer. O passado alimenta a sua acrimónia e andar para a frente significa aceitar um presente com o qual o ex-Presidente da República não se revê e que até tentou impedir de se concretizar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...