Geert
Wilders, o líder do Partido da Liberdade, declaradamente xenófobo e anti-islâmico, não venceu as eleições na Holanda. Dir-se-ia que
essa é razão suficiente para se respirar de alívio, no entanto,
não creio que assim seja.
Na
verdade, o mal já está feito e não estou certa que Wilders fique
particularmente aborrecido por ter saído derrotado das eleições
até porque o seu discurso colhe particularmente bem fora de uma
governação que tão mal está a correr, por exemplo, a Donald
Trump. Wilders teria dificuldades acrescidas num contexto em que a
negociação faz parte do jogo político, jogo esse que o líder do
Partido da Liberdade não saberia jogar.
Com
efeito, sem partidos para se coligar, desde logo Wilders teria poucas
hipóteses de conseguir governar e mesmo se conseguisse vencer
poderia sempre jogar a cartada da vitimização por mais ninguém
estar interessado numa eventual coligação.
Seja
como for, repito, o mal está feito: Wilders cresceu, ganhou ainda
mais notoriedade, e veio trazer à luz do dia as divisões no seio de
uma sociedade que, aparentemente, estaria no bom caminho da
integração.
Quanto
ao resto da Europa, designadamente as acéfalas lideranças
europeias, não será prudente respirarem de alívio. O
recrudescimento do populismo e até da extrema-direita não são
indissociáveis de políticos apostados em fazer da Europa uma Europa
a várias velocidades ao mesmo tempo que manifestam uma exasperante
incapacidade de resolver os problemas sócio-económicos e de
integração que assolam a Europa. Wilders, tal como Le Pen, e outros
que por aí pululam, não são efémeros e alimentam-se do ódio, da
exiguidade inerente à ideia de futuro, da intolerância e da
incapacidade dos partidos tradicionais abordarem os problemas -
ingredientes que, tal como no passado, contribuem para um receita
desastrosa.
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