Com Donald Trump à frente dos
destinos dos EUA existe um perigo que salta à vista - o perigo da
normalização; o perigo que é inerente à banalização do que deve
ser considerado inaceitável. Na verdade, não há dia em que Trump
ou os seus acólitos não sugiram ou apliquem medidas não
consonantes com uma democracia que se julgava (?) consolidada. Para
além de sugerirem ou aplicarem essas medidas que têm esbarrado na
justiça - para já -, Trump e os seus apaniguados atacam e não
respeitam a separação de poderes indissociável do Estado
democrático.
O
último ataque foi desferido por Trump quando este acusa a justiça
de ser politizada. Isto porque os estados
de Washington e do Minnesota interpuseram
uma acção judicial e porque os órgãos de justiça agiram, não
seguindo cegamente as
políticas bacocas desta Administração. E naquela
linguagem pobre,
Trump colocou ainda a culpa na justiça, isto se existir um ataque
terrorista.
Em rigor, nada disto surpreende. Já
no passado recente Donald Trump, entre tantas outras asneiras,
afirmou que tinha sido vítima de fraude eleitoral, isto depois do
mesmo Trump ter já vencido as eleições. Tudo isto ultrapassa
claramente a irresponsabilidade ou o amadorismo que também são
características desta Administração. Tudo isto constitui um ataque
deliberado e sem precedentes à própria democracia - facto que a
América nunca havia visto, nem mesmo com Richard Nixon.
O enfraquecimento do sistema
democrático - deliberado, repito - não tem como objectivo o
endurecimento do sistema, mas sim a sua transformação de que Trump
é apenas um instrumento e não o seu cérebro.
Esta transformação passará pela
Educação (fala-se da extinção do próprio departamento de
Educação), pelo ambiente (os negócios prevalecem), pela justiça
(instrumentalizada e ao serviço da Administração, com o fim da
separação de poderes), a defesa alimentada com mais intervenções
externas, com a consequente consolidação da ideia de uma América
em perigo e subsequente exultação dos inimigos da América, pela
economia com o aprofundamento dos privilégios concedidos aos mais
ricos, com o desaparecimento dos apoios aos mais desfavorecidos,
sobretudo na saúde e, claro está, com o enfraquecimento e
transformação das próprias instituições democráticas.
Resta esperar que a América elucidada
continue a lutar contra esta Administração que, quando se sentir
encurralada, ansiará por um ataque terrorista em solo americano ou
recorrerá a uma grande intervenção militar num qualquer país
intitulado "inimigo da América".
Entretanto,
o tribunal federal de recurso americano mantém a suspensão do
decreto anti-imigração de Trump e a resposta deste foi: "vemo-nos
em tribunal". Assim vai a América.
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