Sobre a frase em epígrafe importa
olhar para o PSD. Depois de ter sido Governo, depois defender a
privatização da Caixa Geral de Depósitos, ao mesmo tempo que
ignorava os problemas e necessidades do banco, Passos Coelho e os
seus acólitos vestem o papel de ofendidos e de vítimas. Como?
Fácil: atiram tudo o que podem ao ministro das Finanças que
subitamente cometeu o mais grave dos crimes, como se todos estes
ofendidos e vítimas fossem, de alguma forma impolutos.
Vamos ao que interessa: como dar cabo
de mais um banco e ainda assim vestir o papel de vítima:
Primeira lição: não ter pudor, ao
invés, manifestar a incrível capacidade de ter a maior lata do
mundo, ignorando os problemas do banco público e centrando todas as
atenções no Ministro que tem conseguido fazer aquilo que competia
ao PSD, corrigir aquilo que herdou do anterior Governo – garantir a liquidez
e viabilidade do mais importante banco do sector financeiro
português. Ao mesmo tempo que se aproveita a oportunidade para
escamotear o sucesso do actual Governo nas metas e indicadores
económicos que merecem, inclusivamente, elogios da Comissão
Europeia.
Segunda lição: fingir que são
incapazes de dormir à noite preocupados que estão com a dignidade
do Parlamento, ao ponto do Presidente da Comissão de Inquérito
demitir-se. Fingir igualmente que a dignidade do Parlamento acabou no
dia em que SMS trocadas entre o ministro das Finanças e aquele erro
de casting de seu nome Domingues não foram escarrapachadas na A.R.
e, evidentemente, na comunicação social.
Terceira lição: vitimização, atrás
de vitimização, enquanto se finge que a privatização da C.G.D.
nunca foi desejo ardente da liderança do partido. Com a ajuda de um
advogado/comentador numa muito aldrabada quadratura do círculo (com
uma única e honrosa excepção), o PSD dedica-se à vitimização
enquanto anseia pela queda do Ministro e a subsequente instabilidade
política e financeira.
A ironia disto é indisfarçável: o
mesmo partido que grita a palavra dignidade, é o mesmo que já a
perdeu, desde logo quando, em troca de um regresso ao poder, está
disposto a ver o país a arder. Viva o PSD, viva Portugal, de
preferência sob o jugo do Diabo. Pelo caminho esqueça-se a vontade
de privatizar e ignore-se aquilo que aparenta ser incompetência e
que tantas vezes degenera nessa mesma privatização e nos
subsequentes negócios, partições e percentagens. Afinal de contas
o PSD nem foi Governo durante os últimos (quase) cinco anos.
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