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Um Presidente, os seus tweets e o que resta da democracia

Ainda não sendo Presidente, Donald Trump, já age como tal, dentro e fora do twitter. Percebe-se desde logo que será precisamente o twitter a plataforma escolhida para interagir com os cidadãos. Uma espécie de ante-câmara onde as opiniões são veiculadas e, quem sabe, os anúncios serão feitos.
Não pode haver surpresa nesta escolha de Trump, afinal de contas, este nunca será um Presidente de proximidade, como foi em larga medida Obama - humano, com todas as falhas inerentes; humildade quanto baste; próximo dos cidadãos, o possível.
Assim, não admira pois que Trump escolha uma rede social para fazer os seus anúncios e proferir as suas obscenidades. Tal como muitos dos seus apoiantes, as redes sociais são-lhes úteis: é vulgar a mentira, é habitual a ignomínia, é prática comum o ódio que se espalha de forma incontrolável.
Trump comportar-se-á como aquele patrão déspota que se julga superior a tudo e a todos; Trump tratará os cidadãos americanos como se fossem os seus empregados. Trump que não foi eleito da forma mais democrática (ficando com quase menos três milhões de votos do que Clinton) não será um Presidente democrático como foi Obama. Trump atacará a comunicação social que lhe for hostil, já o está a fazer. Trump e os seus apoiantes não são tolerantes, o que levanta uma multiplicidade de inquietações num país com demasiadas feridas abertas. Trump hostilizará meio-mundo e pode muito bem alterar a ordem mundial.

O que resta? Restam os cidadãos, as organizações cívicas e uma parte da esquerda, da esquerda de Bernie Sanders. Estas são as últimas esperanças de uma das democracias mais antigas do mundo. A esperança não está no Senado, no Partido Democrata do centrão ou até no Supremo Tribunal. A esperança está na acção concertada dos cidadãos. Esperança que a democracia americana não se transforme numa outra coisa qualquer; uma democracia que hoje, ainda antes de Trump, parece-se cada vez mais com uma oligarquia. Com tendência para piorar.

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