Avançar para o conteúdo principal

Europa e a instabilidade

Depois de uma boa notícia – a derrota da extrema-direita na Áustria – veio a bomba: o primeiro-ministro italiano, depois de uma inequívoca derrota no referendo por si proposto, demite-se.
Ora, a instabilidade política criada pela demissão de Matteo Renzi traduz-se na forte possibilidade de novas eleições e de uma vitória de um partido ou movimento que leve a plebiscito a continuidade italiana no Euro. Conhecendo-se a evolução ou ausência da mesma na economia italiana nestes anos de moeda única e conhecendo-se também o sucesso de movimentos e partidos populistas, não será difícil adivinhar o resultado.
O movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo parece o mais bem colocado para uma vitória, mas quem se propõe governar Itália acompanha Grillo nas fortes críticas à UE e ao Euro e parece disposto a levar a referendo a continuidade na moeda única. Matteo Renzi acabou por ser o maior foco de estabilidade para a Europa. Mais do que eventualmente se julgaria.
Depois do Brexit, e da incerteza ainda reinar no seio europeu, uma eventual saída de Itália da moeda única coloca em causa a própria, de forma indiscutível. As ondas de choque não se ficarão pela Europa e de uma coisa podemos estar certos: vivemos tempos de incerteza e tudo indica que ainda não se começou a aprender a lição: o neoliberalismo condiciona fortemente as políticas económicas dos países, deixando os governantes sem respostas para os seus cidadãos, tornando a política aparentemente redundante e deixando o vazio disponível para ser ocupado pelo populismo, pelo ódio, pelo discurso contra os políticos. A Zona Euro foi paradigmática. O resultado será desastroso.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...