Avançar para o conteúdo principal

Erros do passado, consequências no presente

Um diplomata assassinado pelas costas diante de câmaras de televisão. Um camião atropela indiscriminada e propositadamente seres humanos em plena época natalícia. O mundo fica novamente horrorizado.
Na Síria a morte está presente em todo o lado, todos os dias. As maiores potências dividem-se ou para apoiar uns ou para apoiar outros, de forma mais ou menos tácita.
Os erros do passado têm, naturalmente, consequências no presente. Os erros de julgamento, a que o petróleo não é alheio, e que fez de ditadores seculares os verdadeiros inimigos enquanto se subestimava a ameaça do fundamentalismo religioso - um fundamentalismo que mata o espírito crítico e como tal não aceita a democracia que se pretendia implementar nessas regiões; um fundamentalismo que mistura tudo: religião, política, economia, direito; um fundamentalismo que se espalha sem controlo.
Os EUA apostaram desde cedo numa política hegemónica que se traduziu amiúde na mais obscena ingerência - veja-se o caso da América Central e América do Sul. Depois, sobretudo com Reagan, o Médio Oriente, terra do petróleo, onde se justificaram alianças vergonhosas com países como a Arábia Saudita ou o Qatar - aliados e patrocinadores do Daesh, Al-qaeda e grupos similares -, a moralidade muito própria de quem se considera superior associada aos interesses do petróleo, redundaram em erros clamorosos: Iraque, Líbia e Síria são os melhores (piores) exemplos. A política quer de intervenção directa, quer de ingerência e influência resultaram em vazios de poder e na existência de Estados falhados.
Foi o que aconteceu com o Iraque e com a Líbia e o que está a acontecer com a Síria. Pelo caminho grupos fundamentalistas como o Daesh não só cresceram a nível mundial como conseguiram o princípio do seu Califado, com a ocupação de parte do Iraque e da Síria.

Com a intervenção militar russa, a derrota do Daesh na Síria, o mesmo se passando com intervenções militares no Iraque. Perder a guerra, perder território, pode significar uma intensificação de acções isoladas em território ocidental, até porque os apoios cessaram - os rebeldes, no caso sírio, afinal não passam de terroristas. Vingança e ressentimento são palavras que ecoam na cabeça dos fundamentalistas. Pelo caminho ataca-se países onde o sucesso da integração possa ser maior, enfraquecendo a ideia de possível convivência salutar entre muçulmanos e não muçulmanos. Esta receita em particular pode muito bem ser um sucesso. Erros do passado, consequências no presente.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...