Avançar para o conteúdo principal

A importância do petróleo

A RTP prestou serviço público digno desse nome ao elaborar uma peça explicativa sobre a origem doconflito na Síria, convidando para o efeito dois comentadores que completaram, com o objectivo informativo, a peça, tudo muito distante do que a comunicação social costuma regurgitar – cacofonia, tudo menos informação.
Nesse referido programa é explicado que subjacente ao conflito na Síria está, naturalmente, a questão energética, designadamente o petróleo e o seu controlo. Bashar al-Assad passou a ser inimigo do Ocidente e ainda mais de países como Arábia Saudita, Qatar ou Turquia depois de ter anunciado a sua intenção de fazer da Síria uma plataforma energética, através também da construção de um oleoduto que passaria por países como o Irão, Iraque, Chipre e Grécia. De um modo geral, o líder sírio passou a ser um pária quando decidiu, contrariamente à sua ideia inicial, passar o referido oleoduto por países xiitas, em detrimento dos sunitas.
Subsequentemente apareceram os apoios a grupos de “rebeldes”, muitos deles terroristas, ou a criação de grupos de mercenários com a tarefa de derrubar o agora incómodo regime de Bashar al-Assad, sobretudo com o apoio saudita. EUA e outros países ocidentais, também insatisfeitos com a decisão do Presidente sírio apoiaram política e militarmente os ditos “rebeldes”.
Hoje, e depois da presença do jihadismo entre esses ditos “rebeldes”, EUA e outros países ocidentais foram abandonando o apoio dado às forças “rebeldes”. Também parece evidente que depois da intervenção russa e iraniana em Alepo, depois da mudança de estratégia da Turquia e sobretudo depois de EUA e outros terem abandonado os referidos “rebeldes” sobre uma sede de vingança que não será totalmente dissociável do assassinato do embaixador russo em Ancara e do atentado terrorista na Alemanha.

A diferença está nas reacções: Putin e Erdogan perceberam o que está subjacente ao atentado – uma tentativa de enfraquecer as relações cada vez mais consolidadas entre os dois países e não morderam o isco, longe disso. A Europa, palco de atentados terroristas, cai por sua vez no discurso da intolerância, no fortalecimento daqueles que atacam os imigrantes e refugiados, não resolvendo o problema, por um lado e sucumbindo aos desejos dos próprios jihadistas cedendo à instabilidade, às divisões e à ostracização de todos os muçulmanos que vivem pacificamente e em respeito pelas culturas dos países de acolhimento – maus muçulmanos, aos olhos dos fundamentalistas, que merecem ser castigados. Assim se cumpre um dos desígnios dos grupos terroristas. Na Europa morde-se o isco com demasiada facilidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...