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Vamos andar muito tempo a perguntar como foi possível

Nos dias e meses seguintes à eleição de Donald Trump o mundo ainda se questionará sobre como terá sido possível a escolha do inefável candidato republicano para o lugar de Presidente americano.
Para além das motivações do eleitorado, talvez mais difícil de aferir, existem questões que se prendem com a própria organização do sistema político e a evolução política e social nos EUA que podem dar pistas para explicar o que se passou na famigerada terça-feira, dia 9/11.
Quanto às motivações do eleitorado, há um vasto espectro de possíveis explicações que abrangem o descontentamento com a própria classe política e com o sistema, racismo, imigração (os dominantes sentem que estão a perder o domínio), até às vicissitudes do capitalismo selvagem. O que torna tudo ainda mais paradoxal. Do meu ponto de vista, as divisões raciais e o sentimento anti-imigração terão sido determinantes para a escolha recair sobre Donald Trump.
No que diz respeito à evolução política e social nos EUA encontramos as tais pistas que podem ajudar a dar uma explicação, que vão para além do simples enfraquecimento da esquerda americana. Desde logo, o enfraquecimento sindical, passando pela fragmentação dos movimentos sociais e, claro, culminando com o facto do partido Democrata se encontrar refém de interesses económicos e de políticos desacreditados deram um forte contributo para que o populismo mais boçal ocupasse a Casa Branca.
Paralelamente, e antes de cairmos nas generalizações invariavelmente abusivas, importa lembrar que quase metade dos eleitores não foram às urnas e, dos que foram, apenas 25,5 votaram em Trump, contra 25,6 que votaram em Hillary, até ao momento.
Vamos andar muito tempo a perguntar como é que foi possível e é positivo que assim seja. Todos devemos fazer uma reflexão sobre o que se passou nos EUA e, com a devida distância, procurar perceber se o mesmo pode acontecer na Europa e se sim, o que fazer para evitá-lo. Quanto a mim, restam poucas dúvidas que a Europa não está a salvo, como se vê por países como a Hungria, Áustria, Polónia, Reino Unido e, quem sabe, outros como Itália ou França


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