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E se aceitássemos placidamente Trump?

Andámos há semanas a partilhar lamurias acerca da eleição de Donald Trump, lamurias essas intercaladas com tentativas de apaziguamento que desaguam numa normalização do novo Presidente eleito, como se ele fosse, de alguma forma, normativo.
Essa normalização, ou até benefício da dúvida, é, desde já um erro óbvio – normalização é aceitação e nós, pelo menos aqueles que se norteiam por princípios universais comuns às democracias com respeito pelo ser humano e pelas liberdades, não podemos aceitar o racismo, a misoginia, a xenofobia, o aumento das desigualdades, sobretudo pela via fiscal e todas as formas de intolerância à moda dos anos 30.
Não podemos aceitar placidamente Donald Trump. Depois da sua campanha, depois das suas promessas e agora depois das suas escolhas para o coadjuvar, não há como aceitar Donald Trump, nem pode haver qualquer estado de graça.
Mas agora impõe-se a grande questão: o que fazer? Combater o neoliberalismo que subjaz ao descontentamento que depois se traduz na ascensão do populismo. É evidente que as desigualdades, o desemprego, a precariedade, a morte da esperança trazem o pior do ser humano ao de cima, vingando o egoísmo, o individualismo mais acentuado, o preconceito com aqueles que consideramos viver à custa dos parcos recursos do Estado ou que nos roubam inclusivamente o trabalho. Este é o velho discurso que vinga. Não vale a pena dourar a pílula. Assim como se vai tornando visível que por este caminho a ascensão do populismo será ainda mais rápida do que muitos de nós julgariam.

Não podemos aceitar placidamente figuras como Trump, nem tão-pouco ignorar o que está implícito ao inaudito sucesso político do presidente americano eleito e outros similares. 

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