Primeiro
as sanções, na óptica do PSD e de comentadores de pacotilha ao seu
serviço, mais não eram do que uma forma de punir o actual Governo
pela trajectória escolhida, embora esta ainda esteja a dar os
primeiros frutos. Assim sendo, as punições recairiam sobre o que
ainda não aconteceu, sobre o futuro - um futuro pejado de conceitos
mediavais como o Diabo que, alegadamente, chega em Setembro. Depois,
quando a sanção virou zero, o mesmo PSD e comentadores seus
acólitos, mudaram radicalmente o discurso - afinal, a ausência de
punição é paradigmática do bom trabalho desempenhado pelo
anterior Governo, numa súbita viragem e regresso ao passado. É
claro que nada disto tem sentido.
Por
um lado terá existido uma conjuntura de factores que inviabilizaram
a abertura de precedente com a aplicação de sanções aos Estados
"incumpridores". Desde logo, Shaüble terá intercedido a
favor da sanção zero. Porquê? Por causa de Espanha: um castigo
infligido ao Estado espanhol seria um castigo a Rajoy, num contexto
onde não existe verdadeiramente qualquer solução política saída
das últimas eleições. Ou seja, um castigo seria um forte
contributo para as críticas que recaem sobre a Europa, críticas
proferidas por partidos mais à esquerda do PP de Rajoy.
Por
outro lado, factores como o Brexit, o crescimento exponencial de
sentimentos anti-Europa que se consubstanciam em escolhas políticas
consonantes e o facto da Europa estar a ser confrontada com problemas
incomensuravelmente mais graves do que umas décimas de um qualquer
défice, transformou toda esta questão num enorme exercício
desnecessário e contraproducente.
Nada
disto viabiliza a tese de que o trabalho de Passos e apaniguados foi
meritório aos olhos das instituições europeias; assim como nada
disto tem a ver com o que ainda não aconteceu. Simplesmente existem
interesses muito superiores à acção dos principais intervenientes
nacionais.
Comentários