Militares turcos encetaram na passada
sexta-feira uma tentativa de golpe de Estado. Falharam, mas sobretudo
surpreenderam. Um país que, no passado, já passou por outros golpes
de Estado.
Este foi um golpe de Estado carregado
de situações inusitadas. Militares que tinham como palavra de ordem
a democracia foram rapidamente debelados por uma acção conjunta que
contou também com a participação de populares, depois do
primeiro-ministro ter incentivado a população civil no sentido de
combaterem os “golpistas”.
Sabe-se também que os militares têm
sido historicamente guardiões do laicismo indissociável do legado
de Ataturk, “pai da turcos” e que Erdogan tem posto em causa esse
mesmo laicismo. Esta é a questão mais inquietante. Com o fracasso
deste golpe de Estado, o referido laicismo do Estado turco saiu
também enfraquecido, e embora Ataturk continue a ser uma referência
incontornável para os turcos é também verdade que o islamismo tem
vindo a ganhar terreno, sobretudo com o AKP partido do Presidente
Recep Erdogan
É indubitável que este alegado golpe
de Estado falhado (ninguém sabe quem está por detrás do mesmo)
resulta num fortalecimento do Governo e sobretudo do Presidente
Erdogan. Deste modo, Erdogan tem agora uma maior margem de manobra
para o endurecimento de medidas, cada vez mas autocráticas, e tem
igualmente a oportunidade de ouro de alterar a Constituição de
forma a transformar uma democracia parlamentar num regime
presidencialista, perpetuando-se no poder.
O certo é que a Turquia que vivia já
um período de acentuada instabilidade, com o atentado perpetrado
pelo Daesh, depois de uma inversão da forma como o Presidente turco
lidava com o problema, mas também com a guerra com os curdos do PKK
e com a contestação ao próprio Presidente Erdogan. Tempos difíceis
num país cuja importância estratégica, designadamente para a
Europa, é indiscutível.
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