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Ainda sobre os seres rastejantes

O projecto europeu, embelezado ao longo dos anos, reconheço, tem ainda assim sido crucial para garantir paz e coesão social na Europa. Todavia, o mesmo projecto europeu está nas mãos de seres rastejantes, de carácter unidimensional e cinzentos, todos ao serviço de uma Alemanha que procura garantir a sua hegemonia ao mesmo tempo que salva a sua banca.
A Europa está condenada, mostra-se decadente, mas os ditos seres rastejantes, néscios munidos de diplomas iguais a tantos outros, não dão importância aos sinais de decadência. Importa agradar a dois senhores: A Alemanha e a alta finança que tem sobrevivido, sem no entanto aprender com os seus erros, graças precisamente a seres rastejantes. 
È evidente que o resultado não podia ser pior: descrédito dos eleitos que sucumbiram aos encantos dos mercados; desconfiança generalizada em relação aos não-eleitos que deturpam o quanto podem o próprio conceito de democracia e enfraquecimento do projecto europeu, naturalmente indissociável da democracia.

Os seres rastejantes da Comissão e do Eurogrupo deliciam-se com a aplicação de castigos; aos seres rastejantes pouco lhes importa que a receita tenha falhado ou que as injustiças sejam gritantes (a regra dos três por cento já foi violada mais de cem vezes, segundo o estudo recentemente divulgado pelo Instituto de Investigação Económica alemão Ifo, mas Portugal e Espanha serão os primeiros a receber o castigo). Na verdade, o que realmente interessa é que servindo os dois senhores comprarão um pedacinho de céu numa Goldman Sachs ou coisa que o valha. São assim os seres rastejantes. E nós deixamos que as nossas vidas sejam condicionadas por estas criaturas sem qualquer coluna vertebral.

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