Em
Portugal vive-se pouco o colectivo, talvez o hermetismo e a
consequente asfixia provocada por décadas de autoritarismo,
expliquem a pouca vivência dos portugueses no colectivo.
A
excepção é o futebol. As grandes manifestações de colectivo
nascem dos clubes de futebol. Não existe aqui nenhuma crítica
implícita, mas apenas a constatação de um facto. A amplificação
em torno deste exercício é fundamentado pela escassez de
exercícios onde colectivo prepondere. No futebol, designadamente por
altura da consagração de um campeão, assistimos a um sentimento
mais forte de união entre aqueles que partilham as mesmas
preferências em matéria de clube de futebol. Um sentimento que,
infelizmente, anda ausente durante o resto do ano; ausente noutras
situações. Há identificação, há a partilha de objectivos,
predomina um entendimento ao alcance de todos e existe a consolidação
do espírito de pertença, no qual todos parece contarem.
Contrariamente a outros domínios onde impera a exclusão e um
crescente sentimento de impotência.
No
entanto, o futebol é uma excepção. A dita partilha de objectivos,
a referida identificação e espírito de união não são
características intrínsecas a um povo que talvez ainda não tenha
associado boa parte das nossas imperfeições precisamente à
ausência do colectivo. No dia-a-dia, funcionamos individualmente,
esquecidos de qualquer objectivo comum e convencidos que a escolha de
representantes políticos é a nossa última tarefa em prol do
colectivo e depois dessa escolha a responsabilidade deixa de ser
nossa.
É
evidente que o conceito de cidadania e de colectivo são, em larga
medida, indissociáveis. Se o nosso conceito de cidadania é exíguo
também será a exiguidade a marcar os qualquer espécie de espírito
colectivo.
Vai-nos
valendo o futebol para nos lembrar essa coisa estranha chamada
colectivo.
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