Avançar para o conteúdo principal

Quando o colectivo anda ausente

Em Portugal vive-se pouco o colectivo, talvez o hermetismo e a consequente asfixia provocada por décadas de autoritarismo, expliquem a pouca vivência dos portugueses no colectivo.
A excepção é o futebol. As grandes manifestações de colectivo nascem dos clubes de futebol. Não existe aqui nenhuma crítica implícita, mas apenas a constatação de um facto. A amplificação em torno deste exercício  é fundamentado pela escassez de exercícios onde colectivo prepondere. No futebol, designadamente por altura da consagração de um campeão, assistimos a um sentimento mais forte de união entre aqueles que partilham as mesmas preferências em matéria de clube de futebol. Um sentimento que, infelizmente, anda ausente durante o resto do ano; ausente noutras situações. Há identificação, há a partilha de objectivos, predomina um entendimento ao alcance de todos e existe a consolidação do espírito de pertença, no qual todos parece contarem. Contrariamente a outros domínios onde impera a exclusão e um crescente sentimento de impotência.
No entanto, o futebol é uma excepção. A dita partilha de objectivos, a referida identificação e espírito de união não são características intrínsecas a um povo que talvez ainda não tenha associado boa parte das nossas imperfeições precisamente à ausência do colectivo. No dia-a-dia, funcionamos individualmente, esquecidos de qualquer objectivo comum e convencidos que a escolha de representantes políticos é a nossa última tarefa em prol do colectivo e depois dessa escolha a responsabilidade deixa de ser nossa.
É evidente que o conceito de cidadania e de colectivo são, em larga medida, indissociáveis. Se o nosso conceito de cidadania é exíguo também será a exiguidade a marcar os qualquer espécie de espírito colectivo.

Vai-nos valendo o futebol para nos lembrar essa coisa estranha chamada colectivo. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa