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Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Uma tragédia na Europa ou na América do Norte, envolvendo ocidentais, é uma coisa, outra, totalmente distinta, pelo menos para as nossas consciências, é a morte de não ocidentais, sobretudo oriundos de países africanos. Na passada segunda-feira foi notícia o desaparecimento de 400 migrantes oriundos da Somália e da Etiópia no Mediterrâneo. As questões que envolvem estas tragédias são invariavelmente colaterais: tratava-se de um conjunto de migrantes em busca de trabalho ou se se tratava de refugiados? É a pergunta que muitos colocam. Pouco importa, mas são estas as questões que invadem páginas de jornais, sites na internet e tempo de antena - o parco que é dispensado a uma tragédia desta natureza.
De resto, todos sabemos que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa (perdoem-me a deselegância da expressão).
Hoje, volvidos dois dias, já poucos se lembrarão da notícia; uma notícia que tem o triste condão de se repetir, perdendo também dessa forma o interesse.

Dir-se-á que as tragédias que acontecem perto de nós, ou num contexto similar ao nosso, nos são mais próximas e que é humano que assim seja. Talvez. O que não invalida o facto de a atenção dedicada aos migrantes por parte da opinião pública ocidental, ou falta dela, ter uma correlação com a forma como os responsáveis políticos olham também eles para o problema, o que, como se tem visto, tem-se resumido a um mistura de desprezo com uma vontade incontrolável de se livrar do problema, nem que para isso se gastem quatro mil milhões de euros.

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