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Será desta?

A esperança tem de ser a última a morrer. Vem isto a propósito da famigerada investigação "Panama Papers" que pôs a nu uma realidade paralela até certo ponto conhecida, mas cuja dimensão está a surpreender muitos. A existência de paraísos fiscais é conhecida, menos conhecido será o facto de serem os grandes grupos financeiros a fazerem a gestão mundial deste sistema. De resto quem é que garante a esses paraísos fiscais localizados em ilhas recônditas o acesso aos grandes investimentos? De resto, muitas dessas ditas ilhas são dependências de países que todos conhecemos e que aparentemente merecem o nosso respeito.
Paralelamente, também será esquecido que os grandes centros dos tais paraísos fiscais se encontrarem em países tão nossos conhecidos: Luxemburgo, Suíça ou Reino Unido, não esquecendo, evidentemente, os Estados Unidos. A investigação “Panama Papers” traz à luz do dia um problema sistémico e não tanto um caso isolado de gente que não se tem portado bem. O que a investigação revela é um sistema e não um exemplo do que está errado.
É também evidente que os paraísos fiscais têm cumprido bem a sua função que se prende com a acumulação de capital, essência do capitalismo.
Será desta feita e a propósito da referida investigação que se pode combater esta realidade paralela? E como? Do ponto de vista dos cidadãos importa mostrar total inflexibilidade com quem faz parte do sistema e quem faz a apologia do sistema - políticos que dependem do voto. Com esses tolerância zero.
 Aliás, as democracias encontram-se já fragilizadas devido à perda de soberania do povo - a partir do momento em que escolhemos representantes políticos comprometidos com um sistema como aquele retratado pela investigação jornalística podemos ter a garantia de que esses representantes defenderão esses sistemas e não o povo soberano que, por inerência, deixa de o ser.
Por cá tivemos um Governo, neoliberal enquanto Governo, "social-democrata", na oposição, (impossível dizê-lo ou escrevê-lo sem rir) cuja composição contava com participantes na referida realidade alternativa, se dúvidas existem sobre predileção de alguns membros do anterior governo pelo dita realidade alternativa veja-se o caso de Paulo Núncio, a sociedade de advogados a que pertence e as relações com a offshore da Madeira.

A impunidade que reina tem de acabar. Não podemos continuar a criticar as iniquidades que existem e simultaneamente insistir na escolha daqueles que promovem essas iniquidades. De resto, como é lembrado por Joe Brewer, quando alguns elementos de uma sociedade agem erradamente e saem impunes, outros tenderão a imitá-los nessa espécie de norma social.

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