Avançar para o conteúdo principal

“Panama Papers”

De um modo simples trata-se de mais um roubo de dimensões incomensuráveis: 200 mil companhias fictícias no Panamá, criadas, claro está, pelos mais poderosos. Entre os famosos envolvidos neste esquema surgem nomes como os de Putin, figuras da política islandesa, paquistanesa, chinesa, argentina e até os famosos da investigação "lava jacto", estrelas do desporto, traficantes de droga, terroristas. A novidade está na dimensão, até porque todos conhecemos a existência de sociedades off-shores, advogados especializados nessas matérias e políticos e seus assessores comprometidos com estes esquemas que, para além de permitirem a ocultação de dinheiro e património, são também decisivos para a fuga aos impostos e claro para a lavagem de dinheiro. Tudo numa dimensão nunca vista. Crimes e aproveitamento de vazios legais. Um roubo cujas dimensões não são ainda inteiramente conhecidas e muitos milhões de documentos.
E agora? Continuaremos todos muito empenhados no combate ao terrorismo, sabendo que a fontes de financiamento passam por este género de esquemas? Ou continuaremos a insistir na cartilha da austeridade e de que todos os males dos mundo são os trabalhadores, ou por serem pouco produtivos, ou por consumirem demasiados recursos ou simplesmente por existirem?
É evidente que esta esquema só é possível num contexto de capitalismo selvagem, no qual as democracias são vítimas da divinização do dinheiro de uma parca minoria. Ainda assim continuaremos a ouvir os especialistas do costume despejarem todas as culpas em cima de trabalhadores e pensionistas, os tais que merecem a austeridade; os tais que resgatam bancos; os tais que sustentam o que resta do Estado Social. Trabalhadores, pensionistas, pequenos empresários, esses malandros. 
É certo que estamos muito longe de ver o filme todo e que existem questões que gostaríamos de ver esclarecidas, como o envolvimento de portugueses no esquema. A ver vamos se toda a verdade virá ao de cima. Duvido.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...