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Legitimidade e democracia

O que seria da democracia sem a legitimidade conferida pelo voto? Talvez possamos encontrar uma resposta no futuro próximo do Brasil. Tudo indica que Michel Temer, actual vice-Presidente, pertencente ao PMDB, será o substituto de Dilma. Isto apesar de Temer contar com uma elevada taxa de rejeição nas urnas e, segundo todas as sondagens, estar muito longe de estar a conseguir mudar a opinião dos brasileiros.
Dito isto, a solução parece-nos óbvia: eleições. Para tanto seria necessário que o Congresso aprovasse uma emenda constitucional que não está no horizonte, antecipando deste modo a tão necessária clarificação. Só devolvendo a palavra ao povo se pode dignificar o próprio sistema democrático brasileiro, de outra forma, recorrendo a expedientes, muitos deles próximos do surreal, apenas se subverte a essência do regime democrático. E já que estamos numa de desejos, será muito pedir que Michel Temer, Eduardo Cunha, o deputado adepto de Torquemada, restantes parlamentares e até Dilma Rousseff se afastassem? Dando assim uma nova oportunidade à democracia.
De resto, importa lembrar que o próprio Partido dos Trabalhadores de Dilma e de Lula não está isento de culpas. O PT teve uma oportunidade de ouro e desperdiçou-a; o PT cometeu o pecado capital: subverteu os seus valores, deslumbrou-se e rendeu-se, desiludiu a massa que o apoiou, deixando de fazer diferente, como os últimos meses de Dilma mostram (cortes no Estado Social, privatizações, etc). O PT desiludiu o povo brasileiro, aquele que não tinha voz, aquele que não contava.
Mas ainda assim nada justifica os acontecimentos vergonhosos que resultarão no afastamento de Dilma Rousseff. O julgamento da ainda Presidente do Brasil deverá ser feito nas urnas e recorde-se que Dilma ainda conta com a legitimidade conferida pelos votos.


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