Todos
falam dos Panama Papers; todos olham com desdém para aqueles
que procuram ocultar dinheiro, fugir aos impostos, etc: todos anseiam
por mais um nome na lista negra dos que foram e serão apanhados na
investigação. Suíça, Luxemburgo, Estados Unidos e Reino Unido
ficam de fora da discussão porque aparentemente os paraísos fiscais
e todos os instrumentos opacos pertencem em exclusivo ao Panamá e a
algumas ilhas manhosas.
Suíça,
Luxemburgo, EUA e Reino Unido, por onde passa dinheiro sujo, dinheiro
que foge de impostos como quem foge da peste e dinheiro que patrocina
as actividades criminosas mais abjectas, estão de fora da equação
da vergonha. A vergonha fica relegada para as ilhas manhosas e para
aquela ponta do iceberg apanhada na curva e que fará parte de uma
lista que todos adoram.
Deste
modo não abordar o envolvimento central do sector financeiro
reputado e tido como sério nos paraísos fiscais é outra forma de
hipocrisia. Os maiores bancos internacionais estão envolvidos neste
e noutros esquemas, ou como é que o "investimento" dos
países ocidentais e teoricamente desenvolvidos acaba nos paraísos
fiscais? As tais ilhas manhosas, são ou não são, pelo menos uma
boa parte, dependentes dos tais países ocidentais e teoricamente
desenvolvidos?
Paradoxalmente, quanto
mais se fala dos Panama
Papers
mais se parece
afastar do
essencial. Ficaremos pela rama até que outro escândalo tome conta
das páginas de jornais, tempos de antena e caixas de comentários na
internet.
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