Existe
quem tenha a capacidade de assumir a derrota e quem seja
manifestamente incapaz de o fazer, sem avançar com explicações
patéticas para essa mesma derrota. Terá sido esse o caso do
secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, quando procurou
justificar a notória derrota do seu candidato com o facto do partido
não ter sucumbido à apresentação de uma candidata engraçadinha":
"Podíamos arranjar uma candidata engraçadinha, com um discurso
ajeitadamente populista que pudesse aumentar o número de votos. São
opções e eu não as quero criticar..." Mas ao proferir tal
frase já teceu as críticas que diz não querer tecer.
A
frase é infeliz e tem destinatários conhecidos: o Bloco de Esquerda
e Marisa Matias. É lamentável que o secretário-geral do PCP tenha
resumido a candidatura de Marisa Matias a uma candidata engraçadinha.
Para além da frase conter laivos de misoginia, resumir Marisa Matias
a uma candidata engraçadinha anda muito longe da verdade. A
candidata do Bloco conseguiu um resultado histórico porque fez muito
provavelmente a melhor campanha da presidenciais, longe daquela feita
pelo candidato do PCP, agarrado a atavismos e sem conseguir passar
qualquer espécie de mensagem.
Explicar
o seu fracasso com o sucesso dos outros e de forma tão deselegante
só revela que o PCP precisa de fazer um longo caminho de mudança.
Em rigor, o que passou do discurso do secretário-geral do PCP mais
não foi do que mau perder próprio de mentalidades que no século
XIX se sentiram em casa. Marisa Matias conseguiu o feito de ser a
mulher mais votada de sempre em Presidenciais, deve-o a si própria e
aos eleitores que nela confiaram e que seguramente o PCP não vê
como sendo néscios. Esperemos que não.
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