Avançar para o conteúdo principal

O árbitro

A ideia de que o Presidente da República desempenha funções sem particular importância, para além de profundamente errada, pode ajudar a explicar a elevada taxa de abstenção. É claro que outros factores são chamados a uma potencial explicação: indolência, desinteresse, cadernos eleitorais desactualizados, etc.
Marcelo afirmou que associa o Presidente da República a um árbitro, colocando de lado as suas próprias convicções. Uma ideia falaciosa que tinha como objectivo a mera angariação de votos. Nem Marcelo vai desempenhar as funções de Presidente da República como um árbitro, nem colocará de lado as suas convicções. Quando for chamado a intervir assistiremos a um Presidente que não limitará a arbitrar, nem tão-pouco teremos um Presidente despido de convicções.
A actual solução política encabeçada pelo Partido Socialista e apoiada pelos restantes partidos de esquerda é, indubitavelmente, frágil. Está presa por uma figura que continua a unir a esquerda: Passos Coelho. Como já aqui referi, todos à esquerda são incapazes de conceber um regresso ao poder de Pedro Passos Coelho e dos seus acólitos. A solução de esquerda necessita também de um Presidente que garanta estabilidade. Tenho dúvidas que Marcelo seja esse Presidente - as convicções que disse colocar de lado desenham um modelo de sociedade que não é aquele apregoado pela esquerda.

Finalmente, os desafios no horizonte serão verdadeiramente difíceis para a esquerda que governa e que apoia o governo, a começar pelas imposições externas, designadamente aquelas avançadas pelas instituições europeias. O Presidente terá também nesse particular uma importância a não desprezar. Afinal de contas "assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas" está repleto de ambiguidades, não vos parece? Recordo o artigo 195.º da Constituição da República Portuguesa (Demissão do Governo), no seu número 2: "O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado."

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa