Existe
uma inaudita preocupação com a fidelidade dos vários partidos de
esquerda aos seus respectivos ideários. Aliás, não me recordo de
assistir a tanta preocupação com os partidos de esquerda, sobretudo
com Bloco de Esquerda e PCP, como nas últimas semanas.
Existe
a preocupação que os aludidos partidos, num contexto de uma
possível solução de esquerda, repudiem às características
ideológicas mais ou menos conhecidas, mais ou menos deturpadas.
Por
outro lado, existe também o receio contrário, um receio que se
traduz na saída da UE e da NATO e da subsequente incapacidade do
país respeitar os compromissos internacionais, por força da
fidelidade que estes partidos têm em relação à sua ideologia. De
resto, esta ideia tem sido usada, até à exaustão, pela coligação,
jornalistas, comentadores do regime e até pelo próprio Presidente
da República.
Ora,
o PCP, o
BE e, até certo ponto do próprio Partido Socialista, não vão
repudiar as características que compõem o seu ideário. O PS poderá
inclusivamente regressar aos valores socialistas, sendo que nos
últimos anos este partido tem-se
mantido
ocupado a brincar às “direitas”.
PCP
e BE chegaram à conclusão de que só através da união se pode
derrubar este governo e terá sido essa derrocada do Governo a unir a
esquerda. E Cavaco Silva, ineptamente,
ajudou à festa.
Paralelamente,
importa lembrar que
o Syrisa representa uma lição para a esquerda: a união de vários
partidos de esquerda contra a ditadura da finança e da austeridade é
essencial e, neste momento, é prematuro tentar derrubar, isolada e
precipitadamente,
a prevalência do Partido Popular Europeu e da sua rendição à
finança. A esquerda parece estar a aprender que essa luta só pode
ser feita de forma concertada, sem precipitações, e sempre no
sentido de alterar a configuração política europeia. Isoladamente,
a esquerda será esmagada como foi o Syrisa. A ver vamos se a
esquerda portuguesa também está a aprender a lição. Até agora
tudo indica que sim.
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