A direita anda de cabeça perdida e
quando considerávamos que tudo estava a ir a descarrilar, Passos
Coelho,consegue ir ainda mais longe, muito longe, longe demais.
Clamar por uma revisão constitucional extraordinária “para que o
Parlamento possa ser dissolvido” é simplesmente ridículo, mas
utilizar expressões como “ Se não querem governar como
golpistas...” e “… se preferirem governar como quem assalta o
poder...” ou ainda “fraude eleitoral e um golpe” é
absolutamente irresponsável e inaceitável. Passos Coelho não é um
comentador, é ainda primeiro-ministro (derrotado) e tem naturalmente
responsabilidades acrescidas.
Paralelamente, toda a retórica de
Passos Coelho é falsa. Existe não só legitimidade, como tudo isto,
num país com alguma cultura democrática, seria considerado normal,
ao contrário do que o ainda primeiro-ministro insiste em afirmar.
Coelho e os seus acólitos preferem
acicatar os ânimos de uma direita desesperada que alimenta a
esperança – a última – que Cavaco Silva não indigite António
Costa. De resto, há muito a perder quando o poder lhes foge das
mãos.
Esta crise, alimentada por Cavaco
Silva, tem tido o condão de nos conceder uma multiplicidade de
ensinamentos: a direita consegue arrumar a democracia na gaveta, com
uma facilidade extraordinária, embora já tivesse existido no
passado sinais inquietantes – afinal de contas, este foi o
Executivo que mais governou contra a Constituição da República
Portuguesa. Esta crise mostra também que o famigerado interesse
nacional, quando necessário, é igualmente arrumado numa gaveta. E,
finalmente, esta crise é sintomática de uma gravíssima ausência
de cultura democrática, também daqueles que são representantes
eleitos do povo.
Tudo isto é triste e tudo isto
continuará a ser alimentado por um Presidente da República que
envergonha os próprios valores republicanos, desde logo ao não
respeitar a vontade dos cidadãos.
Comentários