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A importância do laicismo

É difícil conceber as democracias sem o carácter laico do Estado – um carácter que não invalida de todo a ideia de religião, bem pelo contrário, o respeito entre religiões e entre religiões e o mundo secular é precisamente maior nos Estados laicos, onde não existe a imposição de uma religião ou a preponderância de um confissão religiosa sobre as outras.
Vem isto a propósito dos atentados terroristas em Paris. A importância do laicismo – valor indissociável da República – deverá estar sempre em cima da mesa em qualquer discussão, sobretudo quando se fala na integração ou na natureza multicultural das sociedades europeias.
O laicismo implica uma neutralidade do Estado face à religião, o que pressupõe o já referido respeito por todas as religiões. Ora, a própria concepção de Estado para uma parte do Islão impossibilita a existência do laicismo. Deste modo, o Estado é instrumentalizado pela religião, designadamente na aplicação da lei sharia – uma lei que desrespeita as liberdades e os direitos individuais. Neste sentido, o Estado não pode ser laico, sendo antes instrumento da religião.
Toda a discussão deve ser desenvolvida também à luz de valores como o laicismo. Ou por outras palavras, não pode ser admitida qualquer forma de enfraquecimento do laicismo, caso contrários colocar-se-á em risco quer o respeito por todas as religiões, quer o respeito por valores essenciais às nossas democracias.
Existem, felizmente, correntes no Islão, incluindo do Islão sunita, que procuram a confluência da sua religião com a democracia, no entanto, parece que essas vozes não são suficientemente ouvidas ou não têm força suficiente.

Insistimos na questão da integração e dos falhanços da integração, tantas vezes atribuídas às sociedades europeias, mas importa também não esquecer a responsabilidade das vozes mais moderadas do Islão, daqueles que sabem que a sharia, na visão do radicalismo, é um atropelo à própria essência do ser humano e que reconhecem a importância do laicismo. São essas vozes que precisam de se fazer ouvir. Essas vozes têm também de fazer a parte que lhes cabe.

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