Avançar para o conteúdo principal

Um prosaico exercício de futurologia

Não sendo muito dada a exercícios de futurologia, confesso ser difícil resistir à tentação de conjeturar sobre o que aí vem. O mais natural seria Cavaco Silva perante um cenário de ingovernabilidade, questionar António Costa sobre uma solução encabeçada pelo PS com o apoio dos partidos de esquerda - uma solução que dê mais garantias de estabilidade pela simples razão de se tratar de uma solução maioritária. Ou dito por outras palavras, se António Costa apresentar uma solução de maioria, mesmo apenas com apoio parlamentar, e se o mesmo António Costa e os partidos mais à esquerda manifestarem intenção de chumbar um eventual programa de Governo da coligação, então a solução à esquerda devia ser a escolhida. Isto num contexto de normalidade e maturidade democrática.
Mas como a lógica e a dita maturidade democrática são amiúde relegadas para um segundo plano, o Presidente indigitará Passos Coelho como primeiro-ministro, deixará este formar governo e assistirá ao chumbo do programa de Governo por toda a oposição. Depois, Cavaco Silva chamará António Costa e a solução de esquerda, evitando o cenário de um governo de gestão por largos meses, criando uma instabilidade a que o país simplesmente não se pode dar ao luxo. Seja como for, espera-se mais algumas semanas, entre a indigitação, formação de governo e chumbo do programa desse governo, que consubstanciam uma absoluta perda de tempo.

Este é o meu exercício de futurologia. Espera-se ainda assim que a realidade não ande muito longe desta prosaica conjetura porque qualquer solução que implique um governo de gestão é irresponsável e terá elevados custos para o país. Recorde-se que o Cavaco Silva terá afirmado que “o Presidente da República não pode substituir-se aos partidos no processo de formação de Governo, e eu não o farei e que o mesmo sempre pugnou pela tão famigerada "estabilidade".

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa