Não
sendo muito dada a exercícios de futurologia, confesso ser difícil
resistir à tentação de conjeturar sobre o que aí vem. O mais
natural seria Cavaco Silva perante um cenário de ingovernabilidade,
questionar António Costa sobre uma solução encabeçada pelo PS com
o apoio dos partidos de esquerda - uma solução que dê mais
garantias de estabilidade pela simples razão de se tratar de uma
solução maioritária. Ou dito por outras palavras, se António
Costa apresentar uma solução de maioria, mesmo apenas com apoio
parlamentar, e se o mesmo António Costa e os partidos mais à
esquerda manifestarem intenção de chumbar um eventual programa de
Governo da coligação, então a solução à esquerda devia ser a
escolhida. Isto num contexto de normalidade e maturidade democrática.
Mas
como a lógica e a dita maturidade democrática são amiúde
relegadas para um segundo plano, o Presidente indigitará Passos
Coelho como primeiro-ministro, deixará este formar governo e
assistirá ao chumbo do programa de Governo por toda a oposição.
Depois, Cavaco Silva chamará António Costa e a solução de
esquerda, evitando o cenário de um governo de gestão por largos
meses, criando uma instabilidade a que o país simplesmente não se
pode dar ao luxo. Seja como for, espera-se mais algumas semanas,
entre a indigitação, formação de governo e chumbo do programa
desse governo, que consubstanciam uma absoluta perda de tempo.
Este
é o meu exercício de futurologia. Espera-se ainda assim que a
realidade não ande muito longe desta prosaica conjetura porque
qualquer solução que implique um governo de gestão é
irresponsável e terá elevados custos para o país. Recorde-se que o
Cavaco Silva terá afirmado que “o Presidente da República não
pode substituir-se aos partidos no processo de formação de Governo,
e eu não o farei e que o mesmo sempre pugnou pela tão famigerada
"estabilidade".
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