Existe
quem advogue que a proliferação de novos partidos terá ajudado à
dispersão de votos, facto que se terá verificado mais à esquerda.
Nesta afirmação está implícita uma crítica ao surgimento desses
novos partidos, considerados pouco estruturados e sem futuro. Uma
espécie de empecilho.
Ora,
partindo desse pressuposto o que é que fazemos ao pluralismo que
enriquece as democracias? Ou esse pluralismo só se justifica quando
falamos dos 5 partidos com assento parlamentar? E o que dizer daquela
ideia, também ela profusa, de que os partidos são demasiado
herméticos, distantes dos cidadãos, e que fazia falta o surgimento
de novos partidos?
Por
outro lado, insiste-se em colocar todos os partidos que não têm
assento parlamentar no mesmo saco, como se se tratasse de um conjunto
de partidos que apenas nasceram para ser empecilhos e para
eventualmente recolherem dividendos oriundos dos votos.
E,
finalmente, há quem se regozije com o falhanço desses partidos,
designadamente do Livre/Tempo de Avançar. É um facto que o
Livre/TdA não conseguiu atingir os seus objectivos. Todavia, todo o
trabalho feito em torno de um novo projecto político não será em
vão. Foram muitos os que de forma contundente participaram num
projecto que tentou levar a política aos cidadãos, convidando-os a
participar como nenhum outro partido alguma vez o fez. O resultado
desses contributos foram notáveis e traduziram-se num programa de
esquerda que poderia representar um importante contributo na
Assembleia da República. Não foi assim, mas o Livre/Tda não merece
conhecer o seu fim, sobretudo porque contrariamente a tantos outros
procurou chamar os cidadãos para a participação política. Facto
que não merece ser desprezado, sobretudo numa altura em que todos se
queixam do fosso entre políticos e cidadãos.
Vem
também isto a propósito da notícia que dá conta das dificuldades
financeiras do Livre/Tempo de Avançar. Com efeito, a cidadania vive
dissociada da democracia e qualquer exercício é condenado. Somos
exímios no campo do cinismo e da crítica pela crítica. Cidadania
é, para muitos de nós, estar à frente da televisão enquanto se
coça as partes baixas ou, em alternativa, fazer críticas
destrutivas no Facebook com uma mão, deixando a outra livre para
coçar as já referidas partes baixas.
Declaração
de interesses: a autora deste Blogue é subscritora do Livre/Tempo de
Avançar.
Comentários