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Grau zero da política

Cavaco Silva representa o grau zero da política e se dúvidas existissem, no dia 22 de Outubro, ainda Presidente teve o condão de as dissipar.
Cavaco Silva não surpreendeu ao indigitar Pedro Passos Coelho, mas quando muitos esperavam que o pior já tinha passado, Cavaco profere um discurso que prova que este não é um Presidente de todos os portugueses. Caracterizar o discurso do Presidente como sendo irresponsável, é manifestamente escasso para descrever o que se passou ontem à noite – Cavaco desrespeitou os deputados eleitos, desrespeitou os eleitores dos partidos à esquerda do PS e, por inerência, desrespeitou a democracia. Mas Cavaco vai mais longe: procurou pressionar deputados – eleitos representantes do povo – no sentido de se comportarem como Cavaco pretende.
Cavaco podia simplesmente indigitar Passos Coelho com o pressuposto da tradição, apenas indigitar com esse fundamento. Mas não, o Presidente de alguns portugueses não resistiu e comportou-se como o chefe da pandilha – nada mais.

Ontem a democracia sofreu uma pesada derrota – o responsável tem um nome: Aníbal Cavaco Silva. Ontem o ainda Presidente esvaziou o conceito de democracia. E se os portugueses conseguem, de um modo geral, ser perdulários, esperemos que a história faça justiça aos acontecimentos das últimas semanas – acontecimentos longe de conhecerem o seu término e que podem passar ainda por um governo de gestão, num exercício de incomensurável irresponsabilidade.

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