Nunca
o país, sobretudo no que diz respeito à comunicação social, se
mostrou tão exigente com os políticos. Não com todos os políticos,
mas com os políticos que integram os partidos de esquerda e que se
preparam para apresentar uma solução política em oposição à
"solução" apresentada pelo Governo de Passos Coelho. Se
dúvidas existem sobre esse acréscimo de exigência, sugere-se o
seguinte exercício: assistir aos canais de televisão (com especial
relevo para o canal público RTP1) e passar os olhos pelos jornais. A
exigência que se pede aos partidos de esquerda, e que não há
memória de ter sido sequer aflorada nos partidos de direita, é
comparativamente incomensurável.
Dir-se-á,
numa tentativa de enquadrar tudo num contexto de normalidade, que
esta solução avançada pela esquerda é inédita. É bem verdade
que sim, mas só esse facto não justifica tão acentuada dualidade
de critérios. Por que razão se exige tanto da solução de esquerda
e se lidou com tanta naturalidade com a inexistência de programa
político da coligação conhecida por PàF? A verdade é que Passos
Coelho e Paulo Portas se apresentaram a eleições sem programa
eleitoral e com um passado oneroso e de má memória. Talvez por isso
tenham adoptado a estratégia de discutir apenas e só o programa do
Partido Socialista. Comentadores, entrevistadores e jornalistas
manifestam estar particularmente preocupados com a solução de
esquerda, sendo que nunca demonstraram a mesma exigência com a
solução de direita, com as mentiras, com a incompetência, com a
intransigência.
De
resto, é o próprio Presidente da República a cair nessa dualidade
de critérios, chegando ao ponto inconcebível de colocar fora da
democracia os partidos mais à esquerda do PS. Com efeito, depois da
abertura deste gravíssimo precedente não se sabe o que se pode
esperar de um país cujas elites (parte relevante) manifestam pouca ou nenhuma cultura
democrática.
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