Avançar para o conteúdo principal

Com todos

Com todos não dá. Se António Costa pensa que é possível negociar com todos, estará, muito provavelmente, enganado. Segundo o secretário-geral do PS, o partido está mandatado para negociar com todos os partidos. A ideia é bonita, mas a inexequibilidade é evidente. 
Por um lado, Costa dificilmente conseguiria apoio no seu partido no sentido de procurar soluções à sua esquerda, desde logo porque o PS vem abdicando de parte dos seus valores de esquerda. A possibilidade de encontrar um entendimento com os partidos da esquerda seria uma surpresa agradável, confesso.
Por outro lado, se Costa avançar no sentido de entendimentos com a direita, como é desejo do Presidente da República e dos próprios partidos de direita, estará a viabilizar as políticas da coligação contra as quais o eleitorado do PS votou. Defraudar os anseios do eleitorado pode ser desastroso para qualquer partido, mas sobretudo para partidos que contaram com o peso do voto útil precisamente para inviabilizar a solução governativa da direita.
Se o PS aderir ao apelo do Presidente da República pode correr o risco de enveredar pelo caminho seguido pelo Pasok - partido socialista grego. Ainda assim parece-me que o PS procurará o desgaste da coligação, viabilizando e inviabilizando as políticas de Passos Coelho e Portas, correndo riscos, é certo, mas também esperando que esse desgaste lhes permita vencer as próximas eleições legislativas, provavelmente antecipadas.
Essa posição do PS é, como se disse, arriscada, mas ainda assim creio que é a mais provável. Uma posição que não exige um comprometimento total e que lhes permitirá assistir ao desgaste da coligação, sobretudo quando rebentarem as bombas do BES e da incapacidade do país cumprir as metas do défice.

De qualquer modo, com todos não dá. A frase de Costa serve apenas para comprar tempo, mantendo o espírito democrático. Nada mais.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...