Antes
mesmo de existirem quaisquer certezas quanto a uma solução política
de esquerda - Partido Socialista com apoio parlamentar da CDU e do BE
- já o PS havia sido condenado. Sem dó, nem piedade, dentro e fora
do partido. A ideia de quem ganha é deve formar governo, mesmo em
minoria, pese embora exista uma solução maioritária - ideia
baseada numa tradição - é uma visão exígua da correlação de
forças que deve ser intrínseca à própria democracia. Tudo indica
que o Presidente da República vai manter-se fiel à tradição e
indigitar Passos Coelho, mesmo correndo o sério risco de ver o
programa da coligação chumbado no Parlamento, ignorando PS/BE/CDU e
arrastando o país para longos meses de paralisação. Para um dos
maiores arautos da estabilidade, as contradições são
incomensuráveis.
Antes
de o ser, o PS já era condenado ao fracasso. Os preconceitos e a
ignorância aliadas a uma acentuada ausência de cultura democrática
vão diminuindo o país que parece satisfeito com a mais inexorável
ausência de esperança, contrariando a ideia de que "numa
sociedade bem ordenada, os homens não se limitariam a viver bem, mas
lutariam por viver melhor do que no passado" (Tony Judt) - em
bom rigor, ainda estamos longe de ser uma sociedade bem ordenada,
vivemos
em piores condições
e muito menos lutamos por viver melhor do que no passado. A ideia de
que procuramos mais e melhor - ideia indissociável do próprio
conceito de futuro - cai assim por terra. Por aqui preferimos
sobreviver, em
condições amiúde humilhantes.
Não nos livramos da nossa pequenez. Não questionamos, não lutamos,
preferimos
a resignação
e destilamos ódios e preconceitos nas redes sociais. A verdade é
que uma
sociedade sem pensamento crítico é uma sociedade morta sem o saber.
E sem pensamento crítico dificilmente existirá uma democracia
consolidada.
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